O Oceano e o Mar.

Fim de tarde, eu na calçada. Olhando as pessoas passarem, me sinto uma daquelas meninas que aguardavam ansiosamente alguém, sentindo frio na alma quando vislumbravam sua sombra na esquina. E a tarde esfria, o calor aumenta, e sinto uma saudade imensa, saudade grande de noivo, daqueles que aguardam no altar ansiosamente. Mãos frias, suadas, olhar na esquina. Quando você vem, meu bem? E o vento sopra, e não me traz resposta. Penso em ti bem devagar, com um querer imenso, cheio e limpo, fundo e alegre, e quando suspiro, todo o meu corpo sente sede imensa de ti. O poeta já dizia "que o amor embala a outra pessoa dentro de si". Viro o rosto, pra ninguém vê-lo molhado, que bobagens que escrevo, bobagens pra todo mundo me chamar de ridícula, por esse querer tão forte. Hoje me sinto menina, esperando aquele menino teimoso, com a bola na mão, que permanece em frente da imensa porta. Amor teimoso desse menininho, olhar comprido, rosto cheio de desejo em reviver pedaços de seu caminho... e mesmo assim, continua teimando, segurando, retendo... Dono da bola, joga para o alto e deixa o mundo girar. Quando for a hora, você acerta e faz gol. Agora isso parece clichê, soa distante, você esmaecendo feito o papel de fax que teimo em conservar. Em alguma distante esquina eu aguardo por ti, o homem perplexo que pensa em mim, pensando teimosamente em esquecer de nós. Nenhuma explicação exclui explicação contrária. Dia sem assunto, noite cheia de você. Sento na esquina e invento jogos comigo mesma. Jogo simples esse, que faço desde menina, sento aqui e fico mentalizando um carro. Pode ser uma marca, às vezes uma cor, e tudo depois vai depender disso. Aí estabeleço a meta: "Enquanto não surgir, não posso sair daqui". Melhor quando eu desordeno a ordem regrada das coisas, e coloco como explicação o carro que aparecer. E um carro na avenida surge, em nada correspondendo com o que eu chamo, ou tudo se alinhando com o que eu sinto. Uma brasília laranja. Suspiro longo, sinto você perto de mim. Desvio o olhar da rua, fecho os olhos, agora é para alguma coisa que nós queremos, e tanto sonhamos em realizar. Bem-me-quer, mal-me-quer, diga se vai se realizar? O próximo carro. Não, o sexto. Pra deixar mais emocionante. A grande aposta, o elucidador de toda a história, o tráfego recomeça: passa astra, corta pela direita o fusion, o celta vem atrás, 1.0 é assim. S-10 surge zunindo, barulho de escape furado. Atrás, colado, um fusca azul, e no volante podia ser minha avó, segura do que queria, confiante que podia. Sinto que minhas pernas grudam, é brincadeira, bobagem, e me sinto desfalecer quando o carro percorre a rua, faróis baixos. Pode ser que sim, pode ser que não. E a paz surge, companheira, repousa ao meu lado no degrau, significado fácil... Não digo porque nem é preciso. Buzinas, o trânsito pára de novo. Fecha os olhos aí, adivinha qual foi o carro. Nem pense que não. Nem pense que poderia ser um engano. Nem pense que não sei o que está passando, posso ver o que eu quiser no acontecido seu, porque você me aponta, me cerca, me envia e me deixa sem ter para onde ir, sem antes sentir. Dá meia-volta, só agora. A urgência vai deixar de existir em pouco tempo, pra começar de novo o que você pede. Diz pouco. Ou nada. Mas sente. A única maneira de nos guiarmos é seguindo o que sentimos. Você, pelo sol. Eu, quando a chuva cai, e, batendo na calçada, ilumina meu mundo por ora negro, à espera de ti. O segredo é o limão, de menos nem se sente, demais não se consegue comer.

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