quarta-feira, setembro 05, 2007


bien dans sa peau.

Fazia algum tempo que não sonhava com Ele. De algum modo, eu soube que "o sonho era especial", eu sabia que o vento e o mar, para mim, cantavam, e para Ele, eram assombro e temeridade. Sem Ele, não há Vida. Porque minha vida entrelaçada a dele, para a devida proteção. Bandeira Vermelha, aviso de ventania. Sem preocupações, capitão. Tudo ficará bem, porque minha mão na sua mão.

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"Era um local onde "Eu" era "considerada forasteira", já que todos ali pareciam "de casa", tamanha a desenvoltura com que agiam. Uma pequena cidade ficava ali perto, e de lá, em dado momento, chegou a notícia de que um grande furacão, vindo do mar, passava por ali, arrastando tudo o que encontrava pela frente, e que não fosse firme o suficiente. O mar passava, engolindo o que estivesse pelo caminho, e continuava sedento... bandeira vermelha se agitava por todos os lados. Mas ninguém parecia se importar com o que acontecia lá fora - como se ali, onde estávamos, estivéssemos realmente protegidos. De tudo. "Acima do nível do mar", comentava um, mais empolgado, rindo muito. Eu olhava a situação, espantada, algo no meu íntimo se agitava, dizendo que o mar chegaria sim, ali, e iria muito mais adiante, as ondas ultrapassariam o muro que haviam erguido ao redor da casa, aquela proteção não era suficiente. E eu precisa ir, seguir viagem, ouvir meu pressentimento, mesmo que esse fosse contrário a tudo o que eles pensavam e faziam. Senti meu coração se apertar, a tristeza tomando conta do meu olhar, quando me virei e encontrei os olhos dele. Não sabia se poderia contar com seu apoio, tinha tanto medo que ele ficasse contra mim, que novamente não confiasse em mim, e não seguisse seu coração. Olhei demoradamente em seus olhos, e disse o que estava sentindo. Falei que queria subir a montanha que ficava ali, à frente. Ir para o alto, pois a solução era subir. De algum modo, disse baixinho a ele, eu sentia e sabia que o mar também atingiria tudo ali, de modo feroz. Os outros ouviram, e começou o murmúrio, o vozerio, a fofoca e a balbúdia. Não que houvesse clara afronta ao que eu havia proferido, porque eles temiam o que ELE podia fazer. Os conselhos, muito bem dissimulados, começaram a se proliferar. Então me vi dando as costas àquele falatório, e comecei a andar, em direção à montanha. Foi quando senti sua mão na minha mão, e vi Ele à minha frente. Iria comigo, confiava em mim, e isso foi a maior prova de amor que eu podia receber. Quando já estávamos quase no topo, senti a ventania que prenunciava a proximidade do mar. Olhamos para baixo, e vimos a fúria do mar colhendo tudo e todos, as ondas cada vez mais altas, vindo a bater em nossos pés. Ele tentou se agarrar a algo que por ali havia, alguma construção humana, e eu teimava em dizer que não, que aquilo ali parecia forte, mas era frágil frente ao mar em fúria, e que o que nos seguraria era o carvalho um pouco a minha frente, mesmo estando com suas raízes quase que totalmente expostas. Ele teimava em não ceder, mas continuava segurando minha mão, e eu, teimava na idéia do carvalho, que parecia frágil, mas no íntimo eu sentia que era a maior força que havia por ali. A corda que eu trazia na cintura, uma ponta amarrei ao carvalho, sentindo as ondas já molhando meus pés, a outra fiz o que o meu coração recomendava. Minha mão ainda na dele, e o vento soprando mais forte, cada um se agarrando a algo, ambos preparados para segurar e amparar o outro. Quando a primeira onda nos atingiu, com toda sua força, a construção a qual ele se agarrava ruíu. Minha mão na sua mão, segurei bem forte para que a tempestade não o levasse; e ele insistindo para que eu o largasse, que ele havia errado, que errando ele deveria se conformar com as conseqüências e desistir; que eu deveria desistir dele. Que eu deveria ficar firme e me salvar. Eram muitas as palavras, estava ficando irritada, foi quando toquei a corda que estava a minha cintura, e percebi que havia me amarrado bem firme a ele, sem que ele percebesse, ou eu me lembrasse. E a fúria do mar continuava nos atingindo, e ele percebendo que a corda em minha cintura cortava minha pele, fazendo com que eu começasse a chorar de dor. Recomeçou a insistir, muito bravo, que eu deveria desistir. Que ele havia errado. Que ele queria que eu soltasse. As palavras dele conseguiam ser mais ferinas que a corda, mais altas que a ventania que vinha com as ondas. E eu não cedia. Até que ele começou a sussurrar, dizendo que tudo que ele queria era que eu ficasse bem, que ele já não tinha mais chance, que não havia mais remédio. Lembro que levei meu braço para trás, e agarrei bem forte seus cabelos, com toda a força que eu sentia haver em mim. E, nessa hora, percebi que, ele indo, eu também iria. E, de algum modo, quando até eu já me assustava com o tamanho das ondas e a proporção da tempestade, acreditando que não iríamos sobreviver, tudo se acalmou. Foi assim, de repente. Então, Ele estava ao meu lado, de mãos dadas, sorrindo, maravilhoso! E Eu, ao lado, omoplata deslocado, braço na tipóia quebrado, cintura toda enfaixada, engessada, muito machucada, mas também sorrindo, muito, mas muito feliz."

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Quando contei a uma amiga esse sonho, ela começou a rir (muitas coisas se repetem, e meus sonhos costumam ser certeiros, literalmente). E ela disse algo que páira agora mais forte do que a mensagem que o sonho deixou: Ora, você não está com medo de se machucar porque você já está toda machucada. Tem alguma parte de você que não esteja quebrada? Comecei a rir, isso é, em parte, verdade. Mas a dor, que tanto me afligia, já não é mais preocupação. Não dói nada, quando você tem um só propósito: proteger seu amor. Falei para esta amiga que eu deveria ter um "parafuso solto, um parafuso perdido em algum lugar", só eu para me meter em tempestades que não eram minhas, apenas por Amor. A parte mais engraçada é que Beatriz, ouvindo a conversa, veio minutos depois correndo: Não se preocupe mais, mamãe, achei o parafuso que você perdeu. Agora você não tem mais nada solto. Nós duas começamos a rir muito, porque para Beatriz tudo estava mesmo em paz, após ela ter encontrado o parafuso "perdido". A pequenininha disse bem séria: Não estou achando graça, viu? Criança tem uma fé que remove montanhas.

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Ah, a mensagem do sonho. Hummm........ então que levarei 21 anos para cumprir a promessa que fiz. "E seja o Que Deus Quiser".

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