Um aceno avisto:.
Cada pessoa tem uma história para contar; há aquelas que preferem guardar na alma, no coração ou em pensamentos ocultos... eu prefiro recortar, colar, compor e cozer: a arte mágica do patchwork, na literatura, puro prazer... Retalhos de algum lugar, que num momento, inspirado e divinamente cronometrado, foram guardados... Fragmentos que compõem a minha caixa dourada de Feiticeira Má do Oeste, até a borda recheada de palavras, memórias, sentimentos... sufocadas e transpostas ao exterior por textos como este, do Rubem Alves, lembrando a concha, uma loucura, alguma raiva e talvez... uma praia e um Anjo Lindo, diavolo velho, nadando entre as ondas... Não tenho nenhum ex-amor com quem eu possa sentar num café, beber uma taça ou duas, rir um tanto, sentir outro tanto de saudades e lembrar do quanto nos fizemos bem, a despeito de termos, quem sabe, também nos machucado um pouco.
Ao falar assim de todos eles, pode parecer que estão todos no mesmo saco, nivelados em sentimento, em cumplicidade, em importância. Não estão. Há o que me fez sofrer e eu soube retribuir. Há o que amei tanto, mas tanto, que por um tempo esqueci de mim mesma, e esse hoje se sente assim. Passei um tempão tentando escrever um final decente para este post, mas não rolou, então, pergunto: tudo é perdoável ou há coisas que mesmo uma "babaca-deixa-disso-e-o-tempo-cura-tudo como eu fui a vida inteira" deveria se esforçar para não esquecer? Eu deveria ir a justiça e pleitear quinze meses de pensão alimentícia? Quem sabe abusar da pobre velhinha e solicitar os 30% cabíveis da sua pensão, já que o filho se recusa a contribuir, alegando miserabilidade? Devo expor aos outros a face tortuosa de Maquiavel, ou deixar que outros idiotas percebam que tudo o que sobra, ao final, é um grande menininho chorando pela amada que foi embora? Bem, meu maior defeito é ser preguiçosa. Tenho fastio só de imaginar que devo percorrer três kilometros, datilografar, empenhar dinheiro e lágrimas, suor e trabalho, na construção de um tsunami, para arrasar outros. Não vale a pena. Afinal, se não chegou ao fim, é porque ainda tem recomeço. E Amor de Verdade dura a Vida inteira. Portanto, nesse dia, minha vassoura passa, e tudo o que me enviaram em 2004, volta. Pros respectivos destinatários. Sem direito a reenvio. Sedex, via expressa. Não fico com presente ou maldições que não são minhas. Minha alma é um bolso onde guardo minhas memórias vivas. Memórias vivas são aquelas que continuam presentes no corpo. Uma vez lembradas, o corpo ri, chora, comove-se, dança... "O que a memória amou fica eterno", disse a Adélia Prado. Mas há um outro tipo de memória que não foi eternizado pelo amor. Essas memórias não moram na alma. Moram nos arquivos da razão. São informações verdadeiras e inertes. Inertes são as memórias que a razão sabe, mas o corpo não ama.
Por isso, Fernando Pessoa dizia: "O valor das coisas não está no tempo que elas duram, mas na INTENSIDADE com que acontecem. Por isso existem momentos inesquecíveis, coisas inesplicáveis, e pessoas incomparáveis". E hoje emergi dos sonhos, gélida e ao mesmo tempo saudosista. Abri mão de tanta coisa, por ter medo de lutar, pelo simples medo de perder. Nesse interim, enquanto desvelava-me em voltar a realidade diária, e relembrar o vívido sonho, descobri as três causas dos males com que convivo, sem ter tido AINDA tempo de enterrar. Aos poucos percebi que o estrago é imenso, ao percebermos a batata podre, e com receio de enfrentar o obstáculo, preguiça de erguer a espada de Sao Jorge, deixamos estar... Quando vemos, a contaminação é grande. Eliminei a alergia, evitarei o que me afeta, e reenderecei o que não me pertencia. Alinhei nos trilhos o meu curso de vida, e desenvolvi o Retorno à Gorda bochechuda, como limpeza astral. a única forma de fugir de lembranças, que ameaçam com saudades sem sentido, é deixar que sangrem as feridas mal curadas, lambê-las em silêncio, e escoar a raiva plantando beijinhos no jardim. Hoje eu me lembrei de alguém que já dissipou muitos sonhos meus, e não havia nenhum ódio dentro de mim. E amanhã não haverá nenhum tipo de sentimento, pois faço uso da filosofia de que"enquanto os caes ladram, a carruagem passa". - pra bom entendedor, meia cova basta .
Não pense que escrevo aqui o meu mais íntimo segredo, pois há segredos que eu não conto nem a mim mesma. E não é só o último segredo que eu não revelo: Há muitos segredinhos primários que eu deixo que se mantenham em enigma. [Lispector} Queria me livrar deste gosto amargo que está na minha boca agora. Livrar-me do peso nos ombros, do olhar sem objetivo, das palavras pontiagudas, dos passos apressados para chegar a lugar nenhum, desta mente que não pára, mesmo enquanto durmo. Está tudo desarrumado neste novo caminho que resolvi seguir. Meus olhos ainda procuram os espelhos que ficaram no caminho antigo. Meus ouvidos querem ouvir notícias de lá. Ouço cristais se partindo em mil pedaços, cada vez que o telefone NÃO toca. E como tem sido difícil dizer não, como tem sido difícil quebrar os espelhos e distanciar-se da estrada antiga. Estou aprendendo a reconstruir a Mulher que habitava por aqui , a ver as belezas desse novo caminho e a identificar as vozes que cantam agora, mas Deus, como é difícil! Como é difícil esperar e não saber se a espera vai dar em algum lugar. Onde está a porta, São Paulo, ou mesmo Paulo Coelho, que diz que todos os dias temos a chance de abri-la? Onde está, que não estou vendo? Deus, me ensine a enxergar, segure minha mão e me mostre o caminho novo, me ensine a caminhar sem muletas e entender o que está acontecendo, porque sozinha eu não consigo, não consigo. Quem sabe eu precise de colo, um sonho realizado, e um sorriso concretizado. "Sempre pensei que optar fosse apenas escolher. Escolher entre dois objetos, duas pessoas, entre duas coisas de igual valor ou semelhantes. Mas a vida foi ensinando... Optar é antes de tudo renunciar, e quantas vezes essa renúncia fica doendo, pedindo, arrancando lágrimas, plantando saudades... Viver é optar. Optar sempre, renunciar a cada momento"... "Aprendi com a primavera a deixar-me cortar e a voltar sempre inteira." (Cecília Meireles)
Rubem Alves diz: "Os místicos e os apaixonados concordam em que o amor não tem razões. Angelus Silésius, místico medieval, disse que ele é como a rosa : "A rosa não tem"porquês". Ela floresce porque floresce." Drummond repetiu a mesma coisa no seu poema As Sem-Razões do Amor. É possível que ele tenha se inspirado nestes versos mesmo sem nunca os ter lido, pois as coisas do amor circulam com o vento. "Eu te amo porque te amo..." - sem razões... "Não precisas ser amante, e nem sempre sabes sê-lo." Meu amor independe do que me fazes. Não cresce do que me dás. Se fosse assim ele flutuaria ao sabor dos teus gestos. Teria razões e explicações. Se um dia teusgestos de amante me faltassem, ele morreria como a flor arrancada da terra. "Amor é estado de graça e com amor não se paga." Nada mais falso do que o ditado popular que afirma que "amor com amor se paga". O amor não é regido pela lógica das trocas comerciais. Nada te devo. Nada me deves. Como a rosa que floresce porque floresce, eu te amo porque te amo!" Não sei, deixo rolar. Vou olhar os caminhos, o que tiver mais coração, eu sigo." (Caio Fernando Abreu)
"Amor é dado de graça, é semeado no vento, na cachoeira, no eclipse. Amor foge a dicionários e a regulamentos vários... Amor não se troca... Porque amor é amor a nada, feliz e forte em si mesmo..." Drummond tinha de estar apaixonado ao escrever estes versos. Só os apaixonados acreditam que o amor seja assim, tão sem razões. Mas eu, talvez por não estar apaixonado (o que é uma pena), suspeito que o coração tenha regulamentos e dicionários, e Pascal me apoiaria, pois foi ele quem disse que "o coração tem razões que a própria razão desconhece". Não é que faltem razões ao coração, mas que suas razões estão escritas numa língua que desconhecemos. A verdade essencial é o desconhecido que me habita e a cada amanhecer me dá um soco." O amor será isto: um soco que o desconhecido me dá? "Que é que eu amo quando amo o meu Deus?" Imaginem que um apaixonado fizesse essa pergunta à sua amada: "Que é que eu amo quando te amo?" Te amo, sim, mas não é bem a ti que eu amo. Amo uma outra coisa misteriosa, que não conheço, mas que me parece ver aflorar no seu rosto. Eu te amo porque no teu corpo um outro objeto se revela. Teu corpo é lagoa encantada onde reflexos nadam como peixes fugidios... Como Narciso, fico diante dele... No fundo de tua luz marinha nadam meus olhos, à procura... Por isto te amo, pelos peixes encantados..."(Cecília Meireles)
Eu te abraço para abraçar o que me foge. Ao te possuir alegro-me na ilusão de os possuir. Tu és o lugar onde me encontro, e da mesma forma como desceu poderá de novo partir. Se isto acontecer deixarei de te amar. E minha busca recomeçará de novo..." Esta é a dor que nenhum apaixonado suporta. "... A testemunha que me relatou o sucedido ..., atrasou-se para um compromisso em minha casa, chegou três horas depois , explicando que havia ido ao velório de um tio de 81 anos de idade que morrera de amor . Parece que seu velho corpo não suportara a intensidade da felicidade tardia, e os seus músculos não deram conta do jovem que, repentinamente, deles se apossara. O amor surgira no tempo em que ele é mais puro: a adolescência. Mas naquele tempo havia uma outra AIDS, chamada tuberculose, que se comprazia em atacar as pessoas bonitas, os artistas e os apaixonados- esses eram os grupos de risco. Pois ela, a tuberculose, invejosa da felicidade dos dois, alojou-se n os pulmões do moço, que teve que ir em busca de ar puro, no alto das montanhas... Quem ia para tais lugares despedia-se com um "adeus", um olhar de "nunca mais". Na melhor das hipóteses, muitos anos iriam se passar antes do reencontro. Imagino o sofrimento da jovem dividida : o corpo naquela casa, a alma por longe terra!! Na vida daquela menina , que surda, perdida guerra...(Cecília Meirelles). Valeram mais os prudentes conselhos da mãe e do pai: não trocar o certo pelo duvidoso. Vale mais um negociante vivo do que um tuberculoso morto. E aconteceu com ela o que aconteceu com a Firmina Dazza , que de longe e às escondidas namorava o Fiorentino Ariza, na estória de Gabriel Garcia Marques - Amor nos tempos da cólera - , que foi obrigada pelo pai a casar com o doutor Urbino: não se troca um médico por um escriturário. Casou-se e com ele ficou até que , depois de 51 anos, veio libertação... Ela casou. Ele casou. Nunca mais se viram. Quando ela tinha 76 anos (ele tinha 79), ela ficou viúva. E ficou sabendo que ele estava vivo. A curiosidade e a saudade foram fortes demais. Foi procurá-lo. Encontraram-se. E de repente eram namorados adolescentes de novo. Resolveram casar-se. Os filhos protestaram. Eles, os filhos, não suportam a idéia de que os velhos também têm sexo. Especialmente os pais. Pais velhos devem ser fofos, devem saber contar histórias, devem tomar conta dos netos.
Então a raposa apareceu.
"Bom dia", disse a raposa.
"Bom dia", o Pequeno Príncipe respondeu educadamente. "Quem é você? Você é tão bonita de se olhar."
"Eu sou uma raposa", disse a raposa.
"Venha brincar comigo", propôs o Pequeno Príncipe. "Eu estou tão triste".
"Eu não posso brincar com você", a raposa disse. "Eu estou cativada".
"O que significada isso – cativar?"
"É uma coisa que as pessoas freqüentemente negligenciam", disse a raposa. "Significa estabelecer laços".
"Sim" disse a raposa. "Para mim você é apenas um menininho e eu não tenho necessidade de você. E você por sua vez, não tem nenhuma necessidade de mim. Para você eu não sou nada mais do que uma raposa, mas sem você me cativar então nós precisaremos um do outro".
A raposa olhou fixamente para o Pequeno Príncipe durante muito tempo e disse: "Por favor cativa-me."
"O que eu devo fazer para cativar você?" perguntou o Pequeno Príncipe.
Você deve ser muito paciente". Disse a raposa. "Primeiro você vai sentar a uma pequena distância de mim e não vai dizer nada. Palavras são as fontes de desentendimento. Mas você se sentará um pouco mais perto de mim todo dia."
Então o Pequeno Príncipe cativou a raposa e depois chegou a hora da partida dele – "Oh!" disse a raposa. "Eu vou chorar".
"A culpa é sua", disse o Pequeno Príncipe, "mas você mesma quis que eu a cativasse".
"Adeus", disse o Pequeno Príncipe.
"Adeus", disse a raposa. "E agora eu vou contar a você um segredo: nós só podemos ver perfeitamente com o coração; o que é essencial é invisível aos olhos. Os homens têm esquecido esta verdade. Mas você não deve esquecê-la. Você se torna eternamente responsável por aquilo que cativa."
Ao falar assim de todos eles, pode parecer que estão todos no mesmo saco, nivelados em sentimento, em cumplicidade, em importância. Não estão. Há o que me fez sofrer e eu soube retribuir. Há o que amei tanto, mas tanto, que por um tempo esqueci de mim mesma, e esse hoje se sente assim. Passei um tempão tentando escrever um final decente para este post, mas não rolou, então, pergunto: tudo é perdoável ou há coisas que mesmo uma "babaca-deixa-disso-e-o-tempo-cura-tudo como eu fui a vida inteira" deveria se esforçar para não esquecer? Eu deveria ir a justiça e pleitear quinze meses de pensão alimentícia? Quem sabe abusar da pobre velhinha e solicitar os 30% cabíveis da sua pensão, já que o filho se recusa a contribuir, alegando miserabilidade? Devo expor aos outros a face tortuosa de Maquiavel, ou deixar que outros idiotas percebam que tudo o que sobra, ao final, é um grande menininho chorando pela amada que foi embora? Bem, meu maior defeito é ser preguiçosa. Tenho fastio só de imaginar que devo percorrer três kilometros, datilografar, empenhar dinheiro e lágrimas, suor e trabalho, na construção de um tsunami, para arrasar outros. Não vale a pena. Afinal, se não chegou ao fim, é porque ainda tem recomeço. E Amor de Verdade dura a Vida inteira. Portanto, nesse dia, minha vassoura passa, e tudo o que me enviaram em 2004, volta. Pros respectivos destinatários. Sem direito a reenvio. Sedex, via expressa. Não fico com presente ou maldições que não são minhas. Minha alma é um bolso onde guardo minhas memórias vivas. Memórias vivas são aquelas que continuam presentes no corpo. Uma vez lembradas, o corpo ri, chora, comove-se, dança... "O que a memória amou fica eterno", disse a Adélia Prado. Mas há um outro tipo de memória que não foi eternizado pelo amor. Essas memórias não moram na alma. Moram nos arquivos da razão. São informações verdadeiras e inertes. Inertes são as memórias que a razão sabe, mas o corpo não ama.
Por isso, Fernando Pessoa dizia: "O valor das coisas não está no tempo que elas duram, mas na INTENSIDADE com que acontecem. Por isso existem momentos inesquecíveis, coisas inesplicáveis, e pessoas incomparáveis". E hoje emergi dos sonhos, gélida e ao mesmo tempo saudosista. Abri mão de tanta coisa, por ter medo de lutar, pelo simples medo de perder. Nesse interim, enquanto desvelava-me em voltar a realidade diária, e relembrar o vívido sonho, descobri as três causas dos males com que convivo, sem ter tido AINDA tempo de enterrar. Aos poucos percebi que o estrago é imenso, ao percebermos a batata podre, e com receio de enfrentar o obstáculo, preguiça de erguer a espada de Sao Jorge, deixamos estar... Quando vemos, a contaminação é grande. Eliminei a alergia, evitarei o que me afeta, e reenderecei o que não me pertencia. Alinhei nos trilhos o meu curso de vida, e desenvolvi o Retorno à Gorda bochechuda, como limpeza astral. a única forma de fugir de lembranças, que ameaçam com saudades sem sentido, é deixar que sangrem as feridas mal curadas, lambê-las em silêncio, e escoar a raiva plantando beijinhos no jardim. Hoje eu me lembrei de alguém que já dissipou muitos sonhos meus, e não havia nenhum ódio dentro de mim. E amanhã não haverá nenhum tipo de sentimento, pois faço uso da filosofia de que"enquanto os caes ladram, a carruagem passa". - pra bom entendedor, meia cova basta .
Não pense que escrevo aqui o meu mais íntimo segredo, pois há segredos que eu não conto nem a mim mesma. E não é só o último segredo que eu não revelo: Há muitos segredinhos primários que eu deixo que se mantenham em enigma. [Lispector} Queria me livrar deste gosto amargo que está na minha boca agora. Livrar-me do peso nos ombros, do olhar sem objetivo, das palavras pontiagudas, dos passos apressados para chegar a lugar nenhum, desta mente que não pára, mesmo enquanto durmo. Está tudo desarrumado neste novo caminho que resolvi seguir. Meus olhos ainda procuram os espelhos que ficaram no caminho antigo. Meus ouvidos querem ouvir notícias de lá. Ouço cristais se partindo em mil pedaços, cada vez que o telefone NÃO toca. E como tem sido difícil dizer não, como tem sido difícil quebrar os espelhos e distanciar-se da estrada antiga. Estou aprendendo a reconstruir a Mulher que habitava por aqui , a ver as belezas desse novo caminho e a identificar as vozes que cantam agora, mas Deus, como é difícil! Como é difícil esperar e não saber se a espera vai dar em algum lugar. Onde está a porta, São Paulo, ou mesmo Paulo Coelho, que diz que todos os dias temos a chance de abri-la? Onde está, que não estou vendo? Deus, me ensine a enxergar, segure minha mão e me mostre o caminho novo, me ensine a caminhar sem muletas e entender o que está acontecendo, porque sozinha eu não consigo, não consigo. Quem sabe eu precise de colo, um sonho realizado, e um sorriso concretizado. "Sempre pensei que optar fosse apenas escolher. Escolher entre dois objetos, duas pessoas, entre duas coisas de igual valor ou semelhantes. Mas a vida foi ensinando... Optar é antes de tudo renunciar, e quantas vezes essa renúncia fica doendo, pedindo, arrancando lágrimas, plantando saudades... Viver é optar. Optar sempre, renunciar a cada momento"... "Aprendi com a primavera a deixar-me cortar e a voltar sempre inteira." (Cecília Meireles)
Rubem Alves diz: "Os místicos e os apaixonados concordam em que o amor não tem razões. Angelus Silésius, místico medieval, disse que ele é como a rosa : "A rosa não tem"porquês". Ela floresce porque floresce." Drummond repetiu a mesma coisa no seu poema As Sem-Razões do Amor. É possível que ele tenha se inspirado nestes versos mesmo sem nunca os ter lido, pois as coisas do amor circulam com o vento. "Eu te amo porque te amo..." - sem razões... "Não precisas ser amante, e nem sempre sabes sê-lo." Meu amor independe do que me fazes. Não cresce do que me dás. Se fosse assim ele flutuaria ao sabor dos teus gestos. Teria razões e explicações. Se um dia teusgestos de amante me faltassem, ele morreria como a flor arrancada da terra. "Amor é estado de graça e com amor não se paga." Nada mais falso do que o ditado popular que afirma que "amor com amor se paga". O amor não é regido pela lógica das trocas comerciais. Nada te devo. Nada me deves. Como a rosa que floresce porque floresce, eu te amo porque te amo!" Não sei, deixo rolar. Vou olhar os caminhos, o que tiver mais coração, eu sigo." (Caio Fernando Abreu)
"Amor é dado de graça, é semeado no vento, na cachoeira, no eclipse. Amor foge a dicionários e a regulamentos vários... Amor não se troca... Porque amor é amor a nada, feliz e forte em si mesmo..." Drummond tinha de estar apaixonado ao escrever estes versos. Só os apaixonados acreditam que o amor seja assim, tão sem razões. Mas eu, talvez por não estar apaixonado (o que é uma pena), suspeito que o coração tenha regulamentos e dicionários, e Pascal me apoiaria, pois foi ele quem disse que "o coração tem razões que a própria razão desconhece". Não é que faltem razões ao coração, mas que suas razões estão escritas numa língua que desconhecemos. A verdade essencial é o desconhecido que me habita e a cada amanhecer me dá um soco." O amor será isto: um soco que o desconhecido me dá? "Que é que eu amo quando amo o meu Deus?" Imaginem que um apaixonado fizesse essa pergunta à sua amada: "Que é que eu amo quando te amo?" Te amo, sim, mas não é bem a ti que eu amo. Amo uma outra coisa misteriosa, que não conheço, mas que me parece ver aflorar no seu rosto. Eu te amo porque no teu corpo um outro objeto se revela. Teu corpo é lagoa encantada onde reflexos nadam como peixes fugidios... Como Narciso, fico diante dele... No fundo de tua luz marinha nadam meus olhos, à procura... Por isto te amo, pelos peixes encantados..."(Cecília Meireles)
Eu te abraço para abraçar o que me foge. Ao te possuir alegro-me na ilusão de os possuir. Tu és o lugar onde me encontro, e da mesma forma como desceu poderá de novo partir. Se isto acontecer deixarei de te amar. E minha busca recomeçará de novo..." Esta é a dor que nenhum apaixonado suporta. "... A testemunha que me relatou o sucedido ..., atrasou-se para um compromisso em minha casa, chegou três horas depois , explicando que havia ido ao velório de um tio de 81 anos de idade que morrera de amor . Parece que seu velho corpo não suportara a intensidade da felicidade tardia, e os seus músculos não deram conta do jovem que, repentinamente, deles se apossara. O amor surgira no tempo em que ele é mais puro: a adolescência. Mas naquele tempo havia uma outra AIDS, chamada tuberculose, que se comprazia em atacar as pessoas bonitas, os artistas e os apaixonados- esses eram os grupos de risco. Pois ela, a tuberculose, invejosa da felicidade dos dois, alojou-se n os pulmões do moço, que teve que ir em busca de ar puro, no alto das montanhas... Quem ia para tais lugares despedia-se com um "adeus", um olhar de "nunca mais". Na melhor das hipóteses, muitos anos iriam se passar antes do reencontro. Imagino o sofrimento da jovem dividida : o corpo naquela casa, a alma por longe terra!! Na vida daquela menina , que surda, perdida guerra...(Cecília Meirelles). Valeram mais os prudentes conselhos da mãe e do pai: não trocar o certo pelo duvidoso. Vale mais um negociante vivo do que um tuberculoso morto. E aconteceu com ela o que aconteceu com a Firmina Dazza , que de longe e às escondidas namorava o Fiorentino Ariza, na estória de Gabriel Garcia Marques - Amor nos tempos da cólera - , que foi obrigada pelo pai a casar com o doutor Urbino: não se troca um médico por um escriturário. Casou-se e com ele ficou até que , depois de 51 anos, veio libertação... Ela casou. Ele casou. Nunca mais se viram. Quando ela tinha 76 anos (ele tinha 79), ela ficou viúva. E ficou sabendo que ele estava vivo. A curiosidade e a saudade foram fortes demais. Foi procurá-lo. Encontraram-se. E de repente eram namorados adolescentes de novo. Resolveram casar-se. Os filhos protestaram. Eles, os filhos, não suportam a idéia de que os velhos também têm sexo. Especialmente os pais. Pais velhos devem ser fofos, devem saber contar histórias, devem tomar conta dos netos.
Então a raposa apareceu.
"Bom dia", disse a raposa.
"Bom dia", o Pequeno Príncipe respondeu educadamente. "Quem é você? Você é tão bonita de se olhar."
"Eu sou uma raposa", disse a raposa.
"Venha brincar comigo", propôs o Pequeno Príncipe. "Eu estou tão triste".
"Eu não posso brincar com você", a raposa disse. "Eu estou cativada".
"O que significada isso – cativar?"
"É uma coisa que as pessoas freqüentemente negligenciam", disse a raposa. "Significa estabelecer laços".
"Sim" disse a raposa. "Para mim você é apenas um menininho e eu não tenho necessidade de você. E você por sua vez, não tem nenhuma necessidade de mim. Para você eu não sou nada mais do que uma raposa, mas sem você me cativar então nós precisaremos um do outro".
A raposa olhou fixamente para o Pequeno Príncipe durante muito tempo e disse: "Por favor cativa-me."
"O que eu devo fazer para cativar você?" perguntou o Pequeno Príncipe.
Você deve ser muito paciente". Disse a raposa. "Primeiro você vai sentar a uma pequena distância de mim e não vai dizer nada. Palavras são as fontes de desentendimento. Mas você se sentará um pouco mais perto de mim todo dia."
Então o Pequeno Príncipe cativou a raposa e depois chegou a hora da partida dele – "Oh!" disse a raposa. "Eu vou chorar".
"A culpa é sua", disse o Pequeno Príncipe, "mas você mesma quis que eu a cativasse".
"Adeus", disse o Pequeno Príncipe.
"Adeus", disse a raposa. "E agora eu vou contar a você um segredo: nós só podemos ver perfeitamente com o coração; o que é essencial é invisível aos olhos. Os homens têm esquecido esta verdade. Mas você não deve esquecê-la. Você se torna eternamente responsável por aquilo que cativa."

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