sexta-feira, julho 20, 2007

MEU 1º ANO DE PSICOLOGIA:.

Esses dias atrás alguém me inquiriu do porque de não revelar o que eu publiquei. Comcei a rir, faz muito tempo, e isso me deixa sempre triste - um curso que eu não conclui, só iniciei. Não foi só a falta de dinheiro, nem a falta de tempo (fazia outra faculdade), mas confesso que o primeiro ano foi como ser exaurida por toda minha vida. Aprendi a discernir, a antever a pessoa que precisa urgentemente de divã, a vomitar já na entrada do IML, a desistir pra poder seguir o que meu coração realmente queria. De tudo, ficou o conhecimento e o esforço que empreendi em muitos meses depois, como autodidata. Acho que imaginei que podia ser uma espécie de terapeuta, pra nova profissão (rsrs).

Sempre houve oráculos em nossa história, e já na Antigüidade eram considerados “comunicação divina em resposta à uma súplica ou pedido, e o tarot, com seus 78 arcanos, além de ser considerado um, atualmente também é um poderoso instrumento para o desenvolvimento da individuação do ser humano; mesmo sendo considerado apenas “misticismo” ou superstição para alguns. Sua forma de elucidar conflitos internos e descobrir profundidade, riqueza e sentido interior, que até então eram somente sombras ocultas no inconsciente humano são, de certa forma, “sabedoria e mistério" e provocam interesse dos mais variados estudiosos.

Stanislau de Guaïta dizia que “existem verdades de ordem sutil, sintética e divina cujo sentido a linguagem humana não pode exprimir. Em certos casos a música permite que a alma possa senti-la, mas somente o êxtase pode mostrá-las em sentido absoluto, e unicamente o simbolismo esotérico pode revelá-las ao espírito de maneira concreta”. Nesse sentido, as cartas do tarot, que são imagens simbólicas e representações de arquétipos fortes, carregados de muita emoção, quando contempladas, podem ser a ponte que conduz ao mergulho profundo em nosso íntimo, revelando estas verdades, que jaziam ocultas, pois todas as respostas encontram-se em nosso interior. Assim, podemos dizer que a adivinhação que muitos creditam ao tarot, é “ um meio de dizer a nós mesmos o que inconscientemente já sabíamos”. Não existem demônios, mas sim uma coleção de arquétipos que cada civilização têm em comum. Principalmente “o que tememos”. O temor da perda – arcano A morte. O medo de deslocamento – arcano A torre. O medo da transitoriedade – arcano O carro.

A figura arquetípica da Morte é representada no tarot pelo Arcano 13, XVIII, também chamado de “arcano sem nome” (tal como o Louco, que não tem número), pois é o que menos necessita de denominação: seu simbolismo é explícito – a morte surge das inúmeras cartas de tarot hoje disponíveis, representada nos mais variados estilos e desenhos, sempre de forma clara, esplendorosa e brilhante. Para Eliphas Levi, esse arcano era o céu de Júpiter e Marte, renascimento, criação e destruição. Apesar de não possuir correspondência astrológica, está ligada a Plutão e Saturno, e recebe influência do Signo de Escorpião. Este arcano traz em si um novo começo, e essa mudança foi preparada pelas cartas antecedentes, VII, X e XII, que indicam desenvolvimento, destino e prova. Aqui vemos a dissolução do ego, para que possa ser liberada a energia estagnada do indivíduo; e pode se referir também à necessária libertação de energia sexual, armazenada em demasia, pois na Inglaterra, nos tempos elisabetanos, as relações sexuais eram freqüentemente chamadas de ‘morrer’.

Waite aproveita vários elementos de outras lâminas em seu tarot, mostrando uma morte sem foice, ou qualquer outro tipo de arma, mas que usa uma armadura e monta num cavalo branco. Em sua mão direita, leva uma bandeira com uma rosa de cinco pétalas. Aqui podemos ver a Morte, ainda em sua forma tradicional, um esqueleto com uma foice na mão, e as cabeças, coroadas ou não, caem sob sua foice. No entanto, após sua passagem, novas mãos e pés despontam da terra: o desaparecimento causado pela morte é ilusório, apenas modifica a aparência, não é queima de cédulas novas e substituição por novas, mas o fundir de moedas velhas para utilizar o mesmo material em moedas novas. Re-nascimento, “o princípio da preservação da energia”. A cor preta é a imagem do esquecimento, os tufos de ervas a imagem do sono (vida vegetativa) e o esqueleto com a alfanje a imagem da Morte.

Se notarem nas várias imagens disponíveis, o esqueleto ceifa mãos, pés e cabeças, que aparecem acima do nível do solo negro, mas não poda a erva, nem corpos humanos inteiros, agindo assim mais como cirurgiã do que exterminadora: amputa membros doentes, antes que tudo se torne inevitável. Sua missão é a cura pela Poda ou Cirurgia. Mas o pé, que se prende ao solo, é também como uma raiz. O símbolo talvez seja também de uma libertação. A morte livra-se das suas origens, liberta-se do seu passado, da sua família, dos seus nós, torna-se uma autônoma, independente. O sol no poente, na carta, indica a luz antiga que some, depois virá a noite, que sempre antecede um novo dia. É o período da escuridão que tantos temem, muitos não conseguem suportar ficar “sem nada”, destituídos de bens materiais ou algum afeto, amparam-se em coisas ou pessoas.

O valor numérico atribuído à carta é 40; e sua letra a 13ª letra hebraica, MEM, que representa hieroglificamente a mulher, daí a idéia da morte também ser fecunda e formadora, “o fruto que cresce no ventre da mulher. Esta letra é a “Segunda mãe” do alfabeto, significando que o homem renascerá quando souber que seu corpo não é somente a matéria, mas também espírito. MEM simboliza todas as mudanças, tanto o fim como o início, e como toda a criação, implica em uma destruição igual. Aleister Crowley atribuía ao arcano 13 a letra Nun, que significa “peixe”, símbolo da vida sob as águas. A serpente e o peixe são os dois principais objetos de veneração em cultos que ensinam doutrinas de ressurreição ou reencarnação. Seu número, 13, é considerado “de azar”, e segundo uma tradição popular da Idade Média, onde quer que se reunam um grande líder, ladeado por 12 pessoas, o décimo terceiro desaparecerá, morrendo. Como exemplos temos Cristo, Júlio César e Napoleão.

Esta superstição persiste ainda hoje, sendo, por muitos, evitado treze comensais à mesa. O 13 é a morte necessária de um ciclo completo, são 13 meses necessários à iniciação de uma wiccan. Os ritos de iniciação eram considerados uma morte (simulada) e um renascimento, o iniciado morria para sua antiga vida, e renascia na nova tradição. Na mitologia do tarot, a Morte é associada a Saturno, devorador dos filhos, ceifando tudo que está ao seu alcance com sua afiada foice. Na Grécia, a Morte era filha da Noite, e irmã do sono, descrita com asas negras e uma rede de caçar. No Tarô de Marselha (IMAGEM) vemos o esqueleto, que simboliza o ser humano reduzido a forma original - ele não é feminino, nem masculino, muito menos tem posição social, e é também a íntima e oculta perduração das coisas. A morte distingue essencial e supérfluo: o que não é mais necessário se dissolve, a energia universal se transforma e sobrevive.

Assim, a representação iconográfica da Morte é de uma figura niveladora, pois apresenta-se da mesma maneira para todas as pessoas. Na imagem de uma das cartas mais simples podemos ver que uma das cabeças cortadas está coroada, a morte não faz exceções ou favores, é democrática, não poupando reis, rainhas ou bispos. A foice que o esqueleto traz consigo modifica-se conforme o baralho, passando do alfanje, de cabo curto, para a foice, que permite realizar a ceifa com maior comodidade, simples reflexo do tempo que estavam vivendo, a transição agrícola. Um dos detalhes que aparecem em vários decks de tarot, referente ao arcano 13 é o pé que a Morte decepa. Ela pode tê-lo cortado inadvertidamente, em seu arrebatamento de abrir um vazio ao seu redor, de fazer tábula rasa dos valores antigos. E é verdade que toda experiência é de como "uma pequena morte", e que cada passo à frente implica na perda de uma parte de si. Mesmo sem dar conta, a pessoa se encontra amputada. O deserto, que às vezes aparece nas imagens de algumas cartas, simboliza uma etapa da vida que se tornou estéril. Os corpos desmembrados de dois seres humanos, as cabeças, pés e mãos cortados, que jazem inúteis, espalhados pelo chão, indicam perda de idéias, de pontos de vista, e de liberdade de movimento, respectivamente. Retrata o momento em que a pessoa se vê feita em pedaços – espalhada – tendo sua velha personalidade e os modos quase irreconhecíveis de tão mutilados.

Hora da reconstrução: “Quem sou eu?” A lâmina XIII fala de uma prova pela qual se tem de passar. Esta experiência, que pode ser dolorosa, é o único acesso à "porta estreita" que leva à realização. A ação do Arcano XIII na vida de uma pessoa pode mostrar-se radical, rápida ou dolorosamente lenta, a escolha é do próprio indivíduo, o seu desejo de apegar-se a velhos laços ou conservar o que já está destruído só fará com que tudo termine morrendo de maneira mais dolorosa. Todos precisam aprender o que significa despedida e separação, e passarão, de uma maneira ou outra, pelas 5 fases do luto – recusa, raiva, pechincha, tristeza até a aceitação da Morte Transformadora, que é o momento preciso em que desistimos das velhas máscaras e permitimos que a mudança se realize.

Na imagem da morte no tarot de Thot, de Crowley, a morte dança como um derviche, lembrando a “Dança da Morte”. O esqueleto rodopia, evocando a idéia de que a morte é, ao mesmo tempo, mudança e estabilidade, vida e fim. Embora sua essência seja uma transformação turbilhosa, redemoninhosa, que nos queda, e diante disso ficamos inertes, assombrados, despedaçados, espalhados, a sua coreografia é a mesma, ela retorna com algo seguro. Mas certamente levará algum tempo para nos reajuntarmos e relembrarmos de nós mesmos. E mais tempo ainda para ressurgir da velha energia, uma nova energia, reciclada, uma pessoa nova e inteira, numa vida nova e completa. Entre a Poda do Velho e a Maturação do novo é natural que haja um período de luto, diria até extremamente necessário, e quem decide quanto tempo dura esse véu negro é o próprio indivíduo, pois para uns a perda de um amor, por exemplo, dura horas de lágrimas, para outras a vida inteira. Para esses a Morte representa uma difícil e penosa transformação, um rito de passagem extremamente doloroso, o que não se aprende na Vida pela alegria, é forçado pela Morte, com a dor e sofrimento.

Esse arcano nos fala de processos que provocarão mudanças e transmutações de situações, exigindo um estágio de incubação, que precederá o momento em que a transformação de fato ocorrerá. Este Arcano, A morte, convida o indivíduo a reavaliar-se, a si e a seus apegos e relacionamentos. O ato de abandonar liberta, apesar de penoso, mostra duas faces: uma que destrói e estraçalha, outra que liberta de velhos laços que se tornaram restritivos, impedindo a vida fluir. Conhecida como o Homem de Preto, em alguns lugares pequenos, a Morte não aceita uma negação – suas face são implacáveis, duras e estranhas, e advertem: a fuga à transformação, à dor que pode vir com a perda, não é nada mais, nada menos, do que “uma fuga de nós mesmos”, até o momento em que estaremos tão longe que não saberemos mais ‘quem somos’ ou ‘quais eram nossos sonhos’.

Os arcanos podem se aclarar por comparação, e segundo Wirth, a carta que ajuda a elucidar o significado do arcano 13 – a Morte, é o arcano X – a Roda da Fortuna, os dois representando a intervenção do destino na vida humana. No plano físico, a Morte pode indicar mudança de cidade, ou de algum setor, ou mesmo a morte física; no plano intelectual/mental deverá haver uma modificação radical de idéias e conceitos, e no plano espiritual/astral pode, ocasionalmente, significar morte física, passagem de um plano para outro ou afastamento e fim de um ciclo de sofrimentos. No campo afetivo antes de evoluir ou aparecer algo novo, será necessário a poda ou destruição de um amor ou relacionamento, libertação dolorosa de uma situação afetiva. É próprio do simbolismo, conforme Wirth, sugerir indefinidamente – cada um verá em cada arcano o que seu olhar permitir perceber”, portanto encare os significados aqui colocados apenas como uma base, sua intuição lhe fornecerá o resto.

A morte também apresenta-se como o “dragão”, que cruza nosso caminho, nos impelindo a uma luta – não há meio termo, ou há vitória ou derrota. Antes de encararmos nossos dragões devemos nos conhecer muito bem, entender de onde viemos, saber o que existiu antes de nós: é o primeiro passo para que possamos seguir adiante, sem mentiras. Os dragões representam tudo o que tememos, e que ameaça nos engolir; partes negligenciadas de nós mesmos que podem demonstrar imenso valor. Quando levados a sério, e até mesmo amados por nós, estes dragões responderão, fornecendo enorme energia e grande significado para a jornada". Os dragões nascem do fogo que criou o universo, e vivem ainda no interior da terra mantendo a chama e o calor dos vulcões. E é também a morte representada por Deusas, como o temível aspecto de arpía de Ceridwen. A deusa escura, deusa da morte, da destruição e do inverno. Cale, a deusa que mostra o caminho da expansão de nova consciência, guarda as portas do submundo e da morte, e é quem abre o caminho do caldeirão da morte e regeneração, no qual todas as almas são submergidas ao final da vida.

Nesses decks enfatizou-se o aspecto da Deusa criadora e destruidora, Kali, diante da qual tudo o que não é mais necessário para a nossa fase da vida desaparece, porém jamais destrói a energia universal, e é em cima desta que ressurge algo novo. Um renascimento, uma ressurreição. Teríamos aqui a atuação de uma força superior, que os mortais não controlam, pois por mais agarrados a situação que será cortada, esta será podada, independente da vontade do indivíduo. É necessário que este perceba que uma etapa da sua vida chegou ao final, e tornou-se estéril, exigindo nova postura, desprendimento de situações passadas, para que o novo possa reflorescer em sua vida. Kore caminhou para a Morte (Hades) a fim de tornar-se Rainha do Submundo, Perséfone. O arquétipo de Perséfone parece exigir que a “morte” esteja sempre presente em algum nível de sua vida, como meio de transformação. A passagem torna-se menos dolorosa se seguirmos os conselhos de Hades : “Não olhes para trás”, porque assim viveremos no presente, e carregaremos em nós as lembranças do passado que se foi. A aceitação serena é exigida, não a resignação amarga, permitindo assim que a vida flua novamente dentro de nós.

Muitas vezes somos um joguete nas mãos dos deuses, e tudo o que podemos fazer é aceitar a condição e renascer – um conselho fácil de se dizer, mas extremamente difícil de se fazer. “Quando foi a última vez em que você foi você mesma?” Encontre coerência, não o conformismo que a Morte e sua foice já extinguiram. Quantas vezes você deixou que a divindade a tomasse, e guiasse você como uma criança, se entregou sem preocupações aos desígnios dos deuses sem pensar nas conseqüências?

Pois é, se não destruímos tudo, não podemos construir nada. Encare a Morte, destrua inteiramente imagens forjadas, simulacros de seres humanos bem sucedidos, máscaras falsas que usamos por comodismo ou segurança; e deixe emergir a pessoa que você é. A única maneira de seguirmos adiante sem alocarmos esqueletos no armário, ou fazer de nossos pensamentos um enorme cemitério, cheio de coisas e pessoas que já foram, é tomarmos consciência de nossa nova condição: não há mais o carro (arcano7) para nos guiar ou ajudar, teremos que encontrar forças em nossos pés, confiar em nossos sentidos para encontrar o rumo e decidirmos continuar a jornada sem muletas, sem ilusões, pois agarrar-se a um apoio, seja uma religião, emprego, ou amor não lhe mostrará o que a Morte veio lhe ensinar: a descoberta de si mesmo. Se a vida tem um sentido, tal sentido é a Morte, o resto... não passa de acompanhamento. No xamanismo, para ser realmente um xamã, uma pessoa deve passar por uma ‘morte’ em vida, significando o abandono da vida que levava, para o recomeço da vida que cura.

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“Devemos nos abandonar a queda, quando renunciamos a nossas escoras, e até mesmo a terra, sob nossos pés, de modo a ouvir o guia que está em nosso coração, então tudo está ganho: já não há medo, já não há perigo, e deixamos que as coisas aconteçam...”*
Hermann Hesse

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