sexta-feira, julho 20, 2007


Baú de Brique-brac.

Como alguém pode ser tão burro e tropeçar no próprio pé assim?
Saco! Eu não quero lembrar de você dessa forma, a cada curva do pensamento, a cada acorde, toda vez que eu durmo ou quando acordo. Dói, sabia?

Enquanto penso em você um misto de calor e frio se revolve em mim. Outro dia encontrei escondidos num bolso da mochila aqueles dois bilhetes de correio elegante que você me escreveu. Eles andavam às minhas costas esse tempo todo como promessas, talvez esperando um momento certo ou preciso de me lembrar de ti, mas muito antes, quando nossos caminhos ainda não se afastavam e eu me perdia tentando te alcançar. Yo no buscava a nadie y te vi. Fiz o que qualquer pessoa sensata faria: chorei.

Veja, a memória sempre teve uma força muito grande sobre mim e é graças a ela que hoje sou quem sou; eu carrego um mundo vivo comigo e dentro de mim, um mundo ainda cheio dos teus sorrisos. Sinto falta da covinha do lado direito do teu rosto como se fosse do meu que ela tivesse sido arrancada. E eu não vou tentar dizer que tá tudo bem porque a verdade é que não tá. Estará, sabe deus quando, logo, lá no horizonte. Mas por enquanto a verdade é esta: tenho sonhos aqui dentro que não se encaixam mais em meu peito, ondas e mais ondas, vagalhões que carregam teu nome pra lá e pra cá e açoitam as minhas costas, inundam meu mar. Você vai partir e eu vou seguir sendo eu mesmo como sempre fui, com um pouco de novo, um pouco de velho, procurando gavetas para bilhetes antigos, dando novos sorrisos. Talvez ainda não fosse a hora de você ler isso. Eu devia ter avisado antes, então desculpa, mas é como eu torno o que sinto palpável, e é assim que eu consigo, de frente, fazer as pazes com meu coração, lentamente. E se você chegou até aqui, quero que saiba que eu preciso dizer adeus — e nada pra mim é mais difícil. Talvez nem a você, nem a mim, talvez nem a nós, posto que ainda existimos em algum lugar lá atrás, algum lugar que foi por mim absorvido e não pode, nem quero que seja esquecido.

Eu preciso dizer adeus ao que não foi e que agora não mais será. Eu preciso dizer adeus aos meses que vêm e não têm milagre, não têm mais o eco de um encontro que me trouxe à vida algumas das alegrias mais delicadas e que encheu meu céu de estrelas. Eu digo adeus ao que sonhei contigo pra guardar o que vivi e que é real e lindo, e porque preciso acordar se quiser sonhar de novo*.


AUTORIA: O texto pertence ao Guilherme (do blog Le Fígaro).

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