terça-feira, agosto 01, 2006


Um dia, vem:.

Depois de 48 anos separados, a mineira Clélia Magalhães, 72 anos, diz que reencontrou seu primeiro namorado e único e verdadeiro amor. Com ele vieram a paixão pela música, e a vocação externalizada de cantora, tão podada em sua vida. Como ela conta: .:"O Joaquim, Caquim, como é conhecido, me trouxe uma vida nova. Eu com 65 anos e ele com 72. Mas a história é longa. Começou quando eu tinha 14 anos, e ele, 21, e namoramos pela primeira vez. Nós morávamos em Mutum, em Minas Gerais, e depois de um ano terminamos porque ele se mudou para uma cidade vizinha. Ficamos um ano separados, reatamos e em cinco meses estávamos noivos. Mas o amor tinha esfriado. Minha mãe percebeu a tristeza e enviou a ele a aliança de noivado. Caquim nunca mais me procurou. Hoje ele reconhece que deveria ter tentado conversar. Mas naquele tempo a gente era muito tímido. Ele se mudou para Campos dos Goitacazes, Rio de Janeiro, e depois se casou. Eu conheci meu marido e, dez meses depois, também estava casada e morando em Belo Horizonte. Para ser sincera, nunca fui feliz no casamento. Meu marido era muito ciumento e não me deixava cantar, a coisa que mais gosto de fazer. Tive três filhos e fiquei viúva aos 46 anos. Só então conheci a liberdade de levar a vida a meu modo. E não queria ninguém que me privasse disso. Em 1999, uma sobrinha do Caquim, a Celina, que é minha amiga do peito, encontrou com ele. Separado havia pouco tempo, ele estava triste, queria uma companheira e pensava em mim. Com meu consentimento, Celina passou meu telefone para ele. Fiquei emocionadíssima quando recebi a ligação. Quis saber se eu tinha alguém. Disse que não e nem pretendia ter, e ele perguntou se podia ligar sempre. O namoro por telefone durou um mês e meio, mas não dei esperança porque achava vergonhoso namorar na minha idade. Se ele tivesse reaparecido logo que fiquei viúva, não é? Mas aí ele veio me visitar. Estava nervosa, preparei um café da manhã caprichado e, assim que abri a porta, ele me beijou na boca. Foram cinco dias maravilhosos. Meu filho veio conhecê-lo e teve uma ótima impressão dele. Porém eu não tinha coragem de enfrentar uma vida a dois. Ele entendeu meu medo. Conversou tanto comigo que acabou me conquistando. O Caquim ficou um ano nesse vaivém, entre Belo Horizonte e Campos. Agora, tem seis anos que está aqui. O melhor de tudo é nossa afinidade musical. Ele adora tocar MPB no violão, me acompanha e eu canto. Gravamos até um CD de serestas e outras músicas. Vendemos 800 cópias e já estamos preparando o segundo. Somos convidados para cantar em festas e bares. Desde que o Caquim voltou para minha vida, fiquei mais alegre, mais expansiva, virei outra pessoa. Ele tem um temperamento muito bom e a gente tem uma convivência ótima. Dizemos um para o outro que agora estamos conhecendo a felicidade."

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O amor sempre chega, porque Somos, realmente, o amor de alguém, nessa vida. Rubem Alves disse, em algum escrito, que o amor chega devagarinho, como se saudasse uma primavera, que, durante muito tempo, só existiu em nosso pensamento. Os sinais eram inequívocos. Aquelas nuvens baixas, escuras... O vento que sopravadesde a véspera, arrancando das árvores folhas amarelas e vermelhas. Não queriam partir... É, estava chegando o inverno. Deveria nevar. Viria então a tristeza, as árvores peladas, a vida recolhida para funduras mais quentes, os pássaros já ausentes, fugidos para outro clima, e aquele longo sono da natureza, bonito quando cai a primeira nevada, triste com o passar do tempo... Resolvi passear, para dizer adeus às plantas que se preparavam para dormir e fui, assim, andando, encontrando- as silenciosas e conformadas frente ao inevitável, o inverno que se aproximava. Qualquer queixa seria inútil. Foi então que eu me espantei ao ver um arbusto estranho. Se fosse um ser humano certamente o internariam num hospício, pois lhe faltava o senso da realidade, não sabia reconhecer os sinais do tempo. Lá estava ele, ignorando tudo, cheio de botões, alguns deles já abrindo, como se a primavera estivesse chegando. Não resisti, e me aproveitando de que não houvesse ninguém por perto, comecei a conversar com ele, e lhe perguntei se não percebia que o inverno estava chegando, que os seus botões seriam queimados pela neve naquela mesma tarde. Argumentei sobre a inutilidade daquilo tudo, um gesto tão fraco que não faria diferença alguma. Dentro em breve tudo estaria morto... Mas o que ele adiante viu, é que Quando é para ficar, não há nada que o retire do lugar. Portanto, sei... o desespero de estar a um pé de se afogar no marasmo das lágrimas... da dor... da inutilidade do encontro... Um pé ainda permanece ali, à espreita. Com um pé, pessoas escreveram livros, e transformaram enredos em filmes gloriosos. Um pé é muito: lembre-se disso quando bater novamente a tempestade. Um pé pode te levar adiante, mesmo que sua face esteja imersa em água escorrida. Ademais, minha avó dizia que, de ponta-cabeça, pensamos melhor, porque o cérebro se irriga mais facilmente... sei lá seus motivos, o que sei é que, invariavelmente, eu fui uma criatura-de-infância que vivia pendurada de cabeça-pra-baixo. Dando piruetas, tentando plantar bananeiras. E aí a gente cresce, e esquece o quanto era bom aquela posição - sim, minha vó tinha razão: depois de ficar de cabeça-pra-baixo, eu voltava tão doce e querida para casa... Aí vem Beatriz, e num piscar de olhos, dá uma pirueta, ao som daquela música "uma pirueta, duas piruetas, bravo!". Sim, meu coração parou: não lembro mais o sabor disso, tudo o que me vem racionalmente a mente é que ela fez isso no chão de madeira, a cabeça podia se partir - há tantas histórias-lendas, e a coluna se quebrar (será que isso ocorre mesmo?)... É, a gente cresce e esquece o sabor de ficar fazendo arte; e imagina que a felicidade está "em meros balões". Largue-os: um mês em sua casa, e garanto que Beatriz te lembrará que "tudo na vida tem conserto, menos nós, que na infância fizemos-de-tudo". Porque invariavelmente, o destino nos prega uma peça, e nos revela um botão-da-mesma-cor que nós, com o mesmo ar-de-estrela, a mesma fantasia em salvar os cães da rua, em proteger todos os meninos que passam frio... Minha sorte é que, quando certa chupeta caiu, ela foi para três - ou seja, a responsabilidade é de três. Em setembro, a primavera virá, e ela te ensina a subir e dar piruetas em solo-de-madeira sem se machucar, nem fazer ai depois.

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