sábado, agosto 26, 2006


Memórias do Infortúnio:.

"Até agora o mundo tinha me tratado bem. Não entendo porque, de repente, em uma estrada tranqüila, perto das cataratas do Niágara, ele mudou de face sem aviso. Sempre que me lembro do passado, sinto vontade de chorar. Não posso precisar exatamente o que é, mas estou triste, como se fosse uma ferida dolorida. Você entende? Você tem sentimentos como esses? Separados, como estamos, em lados opostos do mundo, eu realmente quero dizer alguma coisa alegre, mas, no entanto, sobre quem mais eu poderia despejar minha tristeza senão você? Agora que tirei isso do peito, esqueça tudo, não leve muito a sério (...)"

Esse livro é um relato poderoso, pois ao mesmo tempo consegue ser tocante e muito pessoal. O autor, Su Xiaokang, um dos líderes do movimento pró-democracia na China, conseguiu escapar para os EUA, e, após conseguir reunir sua família, dois anos depois sofre um acidente temerário. Diante desse fato, começa a rever todo o seu passado, seu mundo objetivo e racional, e a procurar onde se encontra sua alma e o seu deus interior.

"Arrependimento e autocensura são coisas fúteis, e a religião não é escapatória. Você não tem alternativa senão reconhecer o fato. Chore, se quiser. Pense na sua culpa dia e noite e tente fazer alguma coisa para aliviar sua dor. Depois, quando você já tiver deixado tudo para trás, poderá relembrar e perguntar a si mesmo: Será que eu sou digno de ficar com a Culpa?" (...) Os eventos passados podem apenas ser chorados. Me obrigo a não pensar nisso, a me fechar para o mundo exterior, manter uma coisa em foco e somente uma, para poder concentrar minhas energias. Se eu me distrair por outros interesses, minha situação presente se tornará insuportável. O amargor dessa situação não pode ser avaliado por alguém que não a esteja vivenciando: o medo, o desespero, a sobrecarga cotidiana, exigindo atenção a cada detalhe e sem avistar o fim. Até mesmo eu, quando olho para trás, em meu diário escrito naqueles dias, sou percorrido por um calafrio. Isolar-me do mundo exterior é o único meio de proteger meus nervos, e assegurar minha paz de espírito, para não perder meu próprio rumo. Eu agora evito multidões, e comecei a evitar simpatia. As pessoas tem um certo senso de piedade, mas só querem ajudá-lo a se esquivar da realidade, ajudá-lo a trapacear consigo mesmo, e sempre graças à bondade de seus corações. Ninguém à minha volta me contou a verdade crua: Encare os fatos de que (...)"

Bem, o autor consegue colocar de forma primorosa muitos tormentos. Eu apenas ilustro aqui o quanto seus "ouvidos maleáveis", e seu forte senso de verdade nua e crua tem me amparado. Espero que um belo dia nós dois despertemos desse bréu obscuro momentâneo, e mesmo gaguejando, descobriremos que realmente somos capazes de entender completamente a nós, aos que nos rodeiam, e principalmente, àquilo que as pessoas estarão dizendo. Por ora, basta que compreendamos que não é interessante saber o porquê de muitas coisas. Não me importa achar o motivo de compreender o que sinto por você; apenas me interessa a perseverança em lembrar que o amor é. E diariamente, fazer com que você acredite nisso - por atos, escritos ou sons. O Amor é, e acontece sempre quando não buscamos. Apenas encontramos, de repente...

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