domingo, junho 04, 2006

Farol na Ilha:.

"Haverá quem desconfie da veracidade do que lerá aqui, mas se tratará de um ingênuo, um alienado nefelibata, ou um dos incontáveis desavisados que não acreditam que o ser humano é irreparavelmente solitário (...) lê-se ficção para fortalecer a noção estúpida de que há sentido, lógica, causa e efeito lineares, e outros adereços que integrariam a vida. (...)Sei que, irremediavelmente, cada um que ler estas páginas vai fazer uma idéia individual, diversa das alheias, embora, talvez, semelhante nas linhas gerais. A maioria lê através de filtros a que se apegam de forma demente e há muita gente, gente demais, que lê nas entrelinhas, um perfeito exercício de imbecilidade, defesa neurótica contra a realidade ou, em inúmeros casos, o "achar-se tão sabido que se acaba sendo besta. (...) Pelo menos nos livros honestos, como este, não há nada nas entrelinhas, tudo deve ser procurado e será devidamente encontrado nas linhas, aqui não são oferecidas entrelinhas, à merda o entrelinhador, pode largar esse livro e gastar seu tempo ruminando o bolo alimentar de sempre. Melhor que ler textos diretos querendo ser esperto e vendo neles coisas indiretas. Leia se quiser, se não quiser, vá pastar com as outras alimárias".

O diário de um farol, porque o farol, já disse, conota uma infinitude de imagens e símbolos dos mais triviais aos mais escondidos no fundo da consciência. Quem quiser traga à tona os seus, se desejar ou puder. (...) O farol. Lúcifer. O que traz a Luz. Prometeu.

"A vida é vitoriosa não quando se tem o que se costuma ver como bençãos, ou seja, beleza, dinheiro, honrarias... Essas coisas podem perfeitamente conviver e até entrar em simbiose com a mais completa infelicidade. Elas não representam uma vitória, por mais que seus detentores e os que erroneamente os invejam queiram pensar assim. A vida é vitoriosa quando se satisfaz o que de fato há em cada um de nós, aquilo que de fato ansiamos, e quase nunca nos permitem, e nem nós permitimos, reconhecer. Preencher essa satisfação é uma tarefa cumulativa, em que a preparação é, por assim dizer, permanente. (...) Lembre-se: não existe ajuda desinteressada, ou sem preço, e quem pede ajuda mesmo que não a receba, abre um flanco, às vezes irremediável, que pode arrastá-lo a uma derrota inesperada e definitiva".

::::::
Deste post, tudo pertence ao livro Diário de um Farol, de João Ubaldo, que é simplesmente magnífico! Imperdível! Eu acho que o autor deve ter uma coleção de dicionários, tal a proeza em arrumar "palavras" novas e pouco usuais. Não percam esse gênio, que transborda aqui a essência do homem, clareando tudo como um farol.

Nenhum comentário:

Postar um comentário