quarta-feira, junho 07, 2006

desordem e caos:.

Desisti provisoriamente de qualquer decisão mais brusca. A única coisa que me interessa no momento é a lenta cumplicidade da correspondência. Leio para mim as cartas que vou mandar: "Perdoe a retórica. Bobagem para disfarçar carinho." Estou jogando na caixa do correio mais uma carta para você que só me escreve alusões, elidindo fatos e fatos. É irritante ao extremo, eu quero saber qual foi o filme, onde foi, com quem foi. É quase indecente essa tarefa de elisão, ainda mais para mim, para mim! É um abandono quase grave, e barato. Você precisava de uma injeção de neo-realismo, na veia. Da Ana Cristina César, e se o poema foi desconfigurado, me perdoem. Foi uma breve passagem que escrevi, pois os livros dela não fazem parte de mim. Me aprofundo, pra saber o que ela traz de tanto deleite, as edições estão esgotadas, o livro sobre comunicação é horrível... Quero sentir algo, mas o fim que ela escolheu é maior do que sua obra - e passeio os olhos, como distração, não entendendo patavina de nada. Mistura inglês, começa com prosa, sai para um poema, abre para uma carta, e desfalece tudo, quando desperta meu interesse. Desculpe, mas Ana e Plath fizeram uma escolha. Exigiram lá de cima que eu ficasse longe da literatura delas. Porque elas me trazem a memória uma louca mulher que queria-porque-queria sair plainando pela janela, feito borboleta. Suas escritoras prediletas? É, as citadas. Acho que dentro do inconsciente da mulher-loucura, que se achava poetisa e tudo, havia a solução para o seu obscuro presente: a morte tornaria-a especial e famosa - ah, mas o que ela escrevia nem sei se o seu amor lia, de tão fútil, copiado e rimado. Feito rascunho de outras dramáticas mulheres. A minha natureza clama por sutileza, balanço, árvore e um pedaço de madeira, com a devida corda. Cora Coralina, doces de nozes, cheiro de café saindo do fogão à lenha... risos de crianças. Acho que passei do tempo, e fiquei velha por dentro.

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