sexta-feira, abril 07, 2006


Starting Over:.

Annabelle(...) Pegou o vestido azul do armário, todas as roupas já despejadas na sua cama. Leve, sensual, sem ser erótico demais. Servia, para o momento, no desespero em que se encontrava, no aperto da hora. Sandálias, maquiagem... banheiro. Pó, contorno dos olhos, sombra. Rímel, lápis preto bem forte, pra marcar presença, deixar que seu olhar demonstrasse o poder de seu sentimento. Batom... O reflexo no espelho ainda estava em tristeza profunda, não havia cor que aliviasse a ausência dele. Sua boca franzida, sua imagem tão distorcida. Onde estava a meiga Anabelle, terna e segura? Céus, há apenas 35 dias e estava afundando desse jeito? Tentou bloquear esses pensamentos, lembrar do que o Dalai-Lama pregava: pensamento vira realidade; por isso seu presente estava ali, desembrulhado e estragado. Parou, e de repente compreendeu o quanto estava retorcida interiormente, começando a entender que ela mesma era a origem daquela raiva e frustração. Lemtamente deixou que as lágrimas escorressem, baixou as mãos e se jogou em meio a confusao, na cama. Porque era ela que estava tentando enxergar algo que sabia perfeitamente bem que não estava lá. Porque sabia que estava ressentida pelo modo amoroso e generoso que ele adentrara em sua vida, abrindo portas, armários e baús. Estava com ciúmes, com saudades, com vontade de colo, carinho e tudo aquilo que fazia com que qualquer pessoa conseguisse enfrentar o medo e o caminho, quando a dor invadia tudo e não se conseguia tocar a própria vida. Um novelo de lã - era assim que se sentia. Pelo menos, colorido. Azul. Turquesa. Não conseguia começar nada, com medo de enfrentar adiante a dor de perder tudo... sabia que desta vez iria destrui-la por completo. Queria desistir, fugir, voar pra longe... Mulher borboleta. Seu estomago apertado, o vestido amassado: quadro patético. Ah, quando foi que ela havia deixado o terror da perda invadi-la desse jeito? Por que estava fazendo isso com ela, quando tinha criado tantas redomas? O que a apavorava é que, no fundo, sua intuição lhe dizia abertamente - é amor, e você está preparada para se jogar para trás? Porque o amor desconcerta, desestabiliza, tripudia... feito montanha-russa, invade todos os seus cômodos, e depois vem pedir pousada, com a porta de entrada aberta. Sentia-se uma flor. Murcha. Decomposta. Ainda não um cravo; talvez um lilás em frangalhos... Uma pessoa profundamente magoada, com alguém que amava profundamente, e que de repente podia se levantar e sair de sua vida. Iria doer. Era verdade o que diziam - ninguém escapa do seu destino eternamente - um dia, ela teria que se render e tentar fazer o melhor que podia com aquilo que de mais amado havia. Não, não queria ser aquelas idiotas infelizes, sem tocar a vida pra frente. O tempo significa muito pouco... e tudo naquele momento! Iria reservar o presente pra ser feliz. Que se foda o futuro talvez com suas ventanias infelizes, pensou. Agora é o que importa: seus medos enfrentados, deixaria as coisas acontecerem. O rio seguir seu curso em direção ao mar, que adentraria no Oceano sem fim... E, se a pluma surgiu, com um homem maravilhoso, não colocaria tudo a perder. Porque, no fundo, conhecia a moldura dos dois - estava enrodilhada em sua vida, tricotada em seu mundo. Pertencia ao seu presente, e, quando fechava os olhos, era ali que ele estava. Do mesmo modo que o pulôver de tricô azul-turqueza feito pela sua avô, que a fazia lembrar-se dela, da varanda e de suas histórias da Espanha. Coisas para serem sentidas, sem análises. Vividas e vestidas, sem modismo ou regras. Com seu coração, logo soube, o único modo de seguir adiante era escutando seus berros. Um sorriso brotou no canto de seu lábio quando viu o TAD marcado a caneta, no seu livro preferido, na cabeceira... Presente do mar, do céu, da terra e dos deuses. .

Segredos de Andaluzia, confissões de Annabelle.

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