sábado, abril 08, 2006


Out...Over:.

Já conheceram aquelas pessoas que carregam atrás de si o encosto do “pedantismo”, numa forma de excluir sempre o outro do conhecimento, como se quisesse sugerir que “você não faz parte da minha escol-intelectual-turma, portanto, você não tem pedigree para discutir comigo”?. Pois é, no meio virtual o que mais se acha é esse assombroso fenômeno. Tem um texto da Marie Louize von Franz, psicóloga, sobre Puaer Aeternus que tenta explicar essa “talvez” síndrome (detesto rótulos!), muito melhor do que eu consiga fazer.

Portanto, para entender um livro, não preciso lê-lo no idioma original. Nem para conhecer teorias psicológicas, preciso me aplicar no alemão. Preciso, sim, das línguas, quando vou me comunicar com o semelhante, e, talvez, para que eu veja se há tanta discrepância assim nas traduções de obras clássicas ou não, como alegam os trilingues! Para mim, dominar uma língua não é garantia de compreensão do pensamento (e muito menos do sentimento) dos membros de uma pátria lingüística. Não é que eu, e justo eu, esteja diminuindo o valor da linguagem para a expressão humana, mas quero colocar que o domínio técnico de uma língua não confere a ninguém a chave para o coração ou a mente de um povo, ou de uma pessoa. O tradutor pode entender tudo de ingês, e não dominar nada da área que traduz, ou seja, será mero técnico da língua, conhecendo os significados semânticos e o sentido das expressões. Garanto que muitas vezes desconhece o significado afetivo ou a expressão vivencial daquilo que essa língua expressa.

Dizer que mitólogos famosos devem, como missão primordial, aprender grego é fábula. Primeiro, porque há várias formas de grego, e o grego que comumente é ensinado (que é o que é falado na Grécia hoje) não é exatamente o mesmo grego no qual a maioria das obras clássicas foram escritas. Ilíada e Odisséia, por exemplo, foi escrita em dialeto jônio, um dos vários que constituíam a diversidade da língua grega na antigüidade clássica. Isso é puro pedantismo, é uma maneira de supervalorizar-se, ou a sua própria função, caso seja professor de grego! Seria o mesmo que eu dizer que uma pessoa que não fez Psicologia não está habilitada a fazer uma análise de qualquer coisa. Os primeiros professores se formaram como “autodidatas”, e tem muita gente que ainda prefere este estilo de aprendizado. O conhecimento não se resume a Academia, ao ensino formal, aos bancos da Universidade, e a maioria das pessoas que estão na função de professor só têm os títulos, os certificados, e se apegam a isso como se fosse garantia de excelência intelectual e domínio de conhecimento, citando todos, literalmente, após qualquer texto escrito! A sistematização do saber no âmbito da Universidade / Academia acabou por reduzir suas formas de expressão, com isso, passou-se a dar valor exagerado aos títulos, e não a capacidade individual de cada sujeito. Se conhecessem meus professores pós-doutorados que não conseguem nem expressar na sua língua o conhecimento que dizem que adquiriram...

Acho que a pessoa tem que ter dom, talento, antes de qualquer coisa. Uma espécie de verve, de mitólogo, terapeuta, professor, pulsando no coração o conhecimento, e através de sua curiosidade vai ampliando seus estudos, sua capacidade de comparação e análise do que percebe. Agora ficar conferindo certificado a quem nem terceiro grau tem, só porque conseguiu se eleger presidente, isso é demagogia. Um título deveria ser conferido a quem por conhecimento da causa o merecesse. Poderia se ter uma banca avaliadora para isso, os egressos autodidatas se titularizando, pois hoje o mercado, mais do que nunca exige isso. Sou a maior defensora do estudo, mas uma das mais ferrenhas críticas do ensino formal como único detentor do saber. Essa arrogância quanto à dominância do conhecimento, essa necessidade de enquadrar o saber no templo, de ritualizá-lo, de conferir-lhe um caráter formal, de sacralizá-lo. De “colocar um esparadrapo” nas Cassandras da vida que se recusam a enquadrar-se nos seus esquemas, tripudiando tudo que estas falam, pois “não se confere veracidade àquele que não sentou em banco de escola". Exceção a regra: Temos uma, num cargo de Presidência.

Existem muitas formas de adquirir conhecimento - e o caminho acadêmico é apenas uma delas. Porém títulos valorizam a pessoa, são expressões de talentos (sic!), e tantos querendo ser o centro das atenções, o melhor na profissão, colecionando linhas de certificados e associações que exigem uma coisa: pagamento anual! Acadêmicos, cientistas, mestres e doutores em geral não suportam encarar a dura realidade de que há “leigos” (meros mortais) no mundo aqui fora que conhecem tanto ou mais do que eles... O pior é que os tais “mais-mais” de cada profissão, escol-intelectualóides, partem para algumas atitudes extremadas, berrando aos quatro ventos quantos artigos publicou (ou scaneou, picoteou e reformulou!), quantos congressos freqüentou, quantos isso e quantos aquilo. Porta-vozes do “saber” cobram “uma nota” por hora para acesso a suas mentes, mais dinheiro ainda para tê-los como orientadores em algo... Como professores, palestrantes, terapeutas... nem sempre o que reluz é ouro.

Como Augusto Cury coloca: O que diferencia os jovens que fracassam dos que têm sucesso não é a cultura acadêmica, mas a capacidade de superação das adversidades da vida. Este é o sistema. Damos o conhecimento pronto e acabado para os jovens. Não os estimulamos a criticar, questionar, discordar. Os alunos não descobrem, não criam, não ousam pensar, não se aventuram. O sistema, sem perceber, encarcera o "eu", aprisionando-o na platéia, não o estimulando para que assuma seu papel de líder no teatro da mente. Os professores são poetas da vida, mas o sistema de ensino, do nível fundamental à universidade, tem formado servos. Os jovens estão despreparados para enfrentar os desafios exteriores e os conflitos interiores. Não sabem proteger sua emoção, administrar seus pensamentos, expor suas idéias, pensar antes de reagir. Sartre dizia que a existência clama por significado". Nossa vida tem que fazer sentido, sem precisar trazer estampado selo de faculdade...

Povos sem escrita (sem poesia registrada), sem palácios, sem templos, sem código de leis e regras documentado, silvícolas de ética guerreira e imersos nas demandas dos sentidos de modo geral, foram mantidos na escuridão durante a maior parte do tempo na civilização ocidental, e quase sempre quando aparecem são expostos como o lado obscuro e sombrio da condição humana, o nosso lado animal e primitivo que deve ser civilizado. O sufocamento das culturas não civilizadas é parte hoje do nosso governo, que se recusa a mergulhar no inconsciente das minorias, porque se acham os melhores. Em vez de preservar uma cultura, impõe uma maneira de pensar sobre esta cultura, não há dúvidas, há claro e estreito delineamento de posições sobre o que é certo ou errado na maneira de um povo viver. Há tantos caminhos, como existem desejos e interpretações do mundo, e acreditar que apenas um deles é verdadeiro é uma manifestação de controle e falta de SABER. Não há um único caminho para o “conhece-te a ti mesmo", mas ainda o que mais encanta aos falastrões é lógica racional (e quase sempre essa busca é uma fuga desesperada do medo de sucumbir às próprias emoções!). A razão, a consciência, a mente, a lógica são apenas caminhos, e não O CAMINHO.

As pessoas tem medo de sentir. De se expor. De se ferirem. Por isso usam a palavra, titularidade, apoio de associações e muitas faculdades - pra já defender o território de "inteligência" sem precisar mostrar moralidade e ética. Dói Amar, dói perder alguém, dói ter uma cultura e alguém pisoteá-las. Dói mais ainda ver o que temos lá em cima, como governantes de nosso país. Antes de serem algo, já abriram mão de tudo, ideologia, partido, coerência e moral – por malas de dinheiro, mídia, apoio... Compramos hoje seres humanos e seu modo de pensar!Compramos, consumimos... Portanto, algo me diz que mensalão é bem consumível, e ainda se aprende aqui pelo fato de ter levado para o bolso dinheiro que não lhe pertencia. Nelson Rodrigues já dizia: "há coisas que o sujeito não confessa nem ao padre, nem ao psicanalista, nem ao médium, depois de morto". Não esperem nada, além do festival de pizza, de pessoas que sabem muito bem mentir.

O que me salva do mar de lama que se estende a todas as profissões e em especial, a nossa cultura política, são os meus sonhos, que podem ser soterrados, rejeitados, mas...uma vez reanimados, não há água que os faça extinguir. Meu amor se verdadeiro também resiste, e a felicidade plena eu só se consigo se aliada a esses fatores. Sem pedantismo, arrogância, ou moralidade, porque certo ou errado depende dos limites de um país, de um Estado, de uma casa... O que conta, no final, é o objetivo: se o caminho tiver coração, tudo terá valido a pena. E algum dia, posso estar no cargo de Senadora, Presidenta não do Chile, e brincar de xadrez, pra ver muito rei cair, instaurando a Ética como matéria fundamental desde a mais tenra idade. Porque senão nossa sociedade não sobrevive. E eu quero o Melhor do Mundo para os que vieram depois de mim. Se cada um fizer a sua parte...

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