segunda-feira, janeiro 02, 2006


Criar é Recompor:.

Fico muitos dias longe de computador: eu gosto de escrever a mão, e queria mesmo era um lap-top pra levar pra cama, e digitar deitada. É assim que eu gosto de fazer qualquer coisa - na hora, não deixar ruminando. Eu gosto de ler Carpinejar, só pra poder dizer coisas que sinto, com palavras de outro. Porque dizem que assim sempre existe a desculpa de ousar colocar a culpa nele. Ele, que não compro seus livros, porque ainda tento decifrar seu pai e sua poesia pra fora. Ele, que parece tanto com Frida, criando pra dentro. E lá no blog dele, uma carta de intenções, e um post da mesmice da segurança de sempre ser ele. É a conjugação desses dois que eu quero nesse ano, mais a conquista da sua irmã mais velha: quero o primeiro lugar no concurso que desejo, no Estado que sonho, na cidade que Amo. Que eu me lembre do quanto sou feliz, enquanto estou aqui; e do quanto falta pra eu conseguir, e deixe de só realizar planos. Porque esse ano de 2006 o que eu não quero é que seja um "re" de nada. Apenas começos. Não quero mais a segurança e estabilidade de sempre, mas o sonho realizado e postergado há quatro anos.

E é muito mais fácil colar, do que inserir o que vai por dentro. Dói menos. Nem sempre fixamos o tempo por aquilo que está na carne. Nossa alegria costuma ser limitada a um horário, a uma realização, a uma situação de fora. Não a um sentido maior de convivência, de descoberta pessoal. Confundimos estar alegre com ser alegre. E o ano não muda se acreditarmos que alguma coisa deve acontecer para ser feliz. Nada precisa acontecer para que a felicidade venha. Ela já deveria estar dentro despertando a delicadeza. Não pode ser condicionada a um plano profissional, emocional e de saúde. Não será a lentilha ou a roupa branca que determinarão a conduta. O que passou não acabou - ainda é. Ciscar para trás pode ser mais verdadeiro do que andar para frente.

Assim, 2006 tem ar de "liberdade". Não me interessa o quanto "é bom ser bom", o que é interessante é lutar pelo que é bom, e pelos seus direitos, eticamente. Quero ser egoísta, discutir o que tenho certeza de que é a verdade nua e crua, quero passar por cima daquilo que já está pisoteado e arruinado, porque não é meu dever ajeitar nada que realmente "não vale nada". Também quero apagar certos ódios e passar borracha em passado tenebroso, não me interessa mais nem reconhece-los como "erros". Não vou continuar no mesmo endereço; mas garanto que continuarei com os mesmos olhos tristes, transparentes e que insistem em dizer tudo o que passa por dentro de mim. Continuo com a respiração cortada por suspiros; mas aboli bebidas alcóolicas. Continuo fascinada por sapatos, e com a maior das intenções de poder comprar todos que me apetecerem o desejo. Continuo lendo três ou mais livros ao mesmo tempo, fazendo três coisas ao mesmo tempo, e dormindo quando tudo isso me cansa. Continuo usando caneta bic, porque é transparente e sempre me deu sorte. Continuo escolhendo os caminhos mais longos para demorar mais pra chegar. Continuo com o mesmo CPF. Continuo com esperança. Continuo apaixonado por antiquário, por recortes e por diários. Continuo amando e entendendo que Amar é se fazer entender. Continuo fulminado de paixão por gatos persas. Continuo sem achar meus óculos de sol, e sem a menor intenção de comprar outros, sem você por perto. Continuo escolhendo as poltronas do ônibus pelos números que representam meu momento. Continuo a ser puxado pelo vento, continuarei a me perder entre textos e reticências e talvez, continue a ser hoje aquilo que não fui nunca. Continuo provocando. Continuo a procurar sinais. Continuo a fugir das fotos. Continuo aguardando as férias. Continuo trabalhando de tarde. Continuo cortando as unhas depois de roê-las. Deixo tudo no mesmo lugar para facilitar que volte ou venha a me encontrar. Não existe como andar de mãos dadas se partirmos em direções contrárias.

Continuo a achar que, quando a gente quer muito uma coisa, a gente consegue. Passar em primeiro. Achar um endereço. Ganhar um direito, e angariar uma justiça. Continuo firme na crença de que, quando a gente ama, o tempo nem existe: e tudo pode ser começado. Num novo Estado. Com a presença de uma Orquídea.

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