quinta-feira, outubro 13, 2005


Manifesto do surrealismo:.

Você perdeu a confiança em si.
Tamanha é a crença na vida, no que a vida tem de mais precário, bem entendido, a vida real, que afinal esta crença se perde.O homem, esse sonhador definitivo, a cada dia mais desgostoso com seu destino, a custo repara nos objetos de seu uso habitual, e que lhe vieram por sua displicência, ou quase sempre por seu esforço, pois ele aceito trabalhar, ou pelo menos, não lhe repugnou tomar sua decisão. Bem modesto é agora o seu quinhão: sabe as mulheres que possuiu, as rídiculas aventuras em que se meteu; sua riqueza ou sua pobreza para ele não valem nada, quanto a isso, continua recém-nascido, e quanto à aprovação de sua consciência moral, admito que lhe é indiferente. Se conservar alguma lucidez, não poderá senão recordar-se de sua infância, que lhe parecerá repleta de encantos, por mais massacrada que tenha sido com o desvelo dos ensinantes. Aí a ausência de qualquer rigorismo conhecido lhe dá a perspectiva de levar diversas vidas ao mesmo tempo; ele se agrra a essa ilusão; só quer conhecer a facilidade momentânea, extrema, de todas as coisas. Todas as manhãs crianças saem de casa sem inquietação, está tudo perto, as piores condições materiais, os bosques são claros ou escuros, nunca se vai dormir. Mas a verdade é que não se pode ir tão longe, não é uma questão de distância apenas. (...) Imaginação querida, o que sobretudo amo em ti é não perdoares.*

Eu não sou o homem que gostaria de ser. E isso me parte a alma...
*1924, André Breton.

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