quarta-feira, julho 20, 2005


Ânsia diante da perplexidade:.

Querida Palova,

Infelizmente não adiantaram os subterfúgios que tentamos para o conserto e retalhamento de minh'alma: tanto o curso de 'Marketing Pessoal', como o livro auto-ajuda chatérrimo do Chopra sobre o Amor, e até o seu blábláblá leonino contumaz foram em vão. Ando mesmo às turras comigo. Acho até que, conforme mais eu me desvio daquilo que quer o destino me direcionar, acabo de repente me vendo atolada novamente no "mesmo sentido". Estilo aquela famosa frase de Fontaine: Quantas vezes encontramos nosso destino nos caminhos que tomamos para evita-lo! Não veja isto como um lamento; já é um grito de ave de rapina, irisada e intranqüila. Será que, como Deus, a gente também pode abrir caminho pela violência? Ele mesmo, quando precisa mais especialmente de um de nós, nos escolhe e nos violenta, não acha? Oh Deus, eu que faço concorrência a mim mesma: Me detesto. Felizmente os outros gostam de mim. É uma tranqüilidade.*

Pra você ter uma idéia do tamanho do buraco negro, eu, que abomino a HelloKitty, tenho agora ânsias de exterioriza-la por aqui. "Pra tirar tudo de ruim que existe dentro de mim", diria o Chopra, finalizando que "tudo é uma forma de catarse, nada é acaso". Bem, melhor pensar como ele, não? O problema desses encontros, é que depois nem sei o que faço com aquilo que vou achando. De repente um quadro surreal resolva os parâmetros...

Sobre Paixões
Ah, tanta paixão aqui dentro, Palovitch. Mas, antes de tudo, quem foi que falou que esta semana seria a minha semana-divã, integralmente pela manhã? Pelo menos poderia passar e mandar um sinal ou pressentimento bom, pra eu intuir e conseguir tomar um rumo nessa tempestade ondulante. Voltando ao caso: segundo os especialistas, pra termos um bom direcionamento, devemos ao acordar ver o que somos. Hoje, fazendo o teste, vi que não sou nada. É, nada. Quando acordei suavemente, nem lembrei meu nome. Foi o nada mais maravilhoso do mundo: por um instante não tinha dívidas, problemas, sentimentos, mágoas, trabalho... NADA. Um segundo depois, os papéis da vida incorpooraram-se no meu quebra-cabeça pessoal, e voltei a si. Nesse instante devemos nos questionar sobre o que sempre sonhamos. Qual foi a paixão que desde cedo cultivamos e ainda permanece arraigada dentro de nós? O que eu sempre quis e quero? Ser perita/delegada Federal. Talvez por ter assistido demais "As Panteras", e depois teve "Colecionador de Ossos"... O problema é que conjuntamente a isso, também quero adquirir a Floricultura que há na esquina. Essas duas coisas difíceis no momento são um problema: papai nao quer, mamãe acha perda de tempo e negócio de homem; titios dizem que flor não dá dinheiro, e mulher bonita não trabalha pra polícia; vovó olha pra mim e ri, dizendo que sempre fui a ovelha-negra-louca da família, e até o jardineiro palpitou esses dias, ao ouvir a conversa: "tem gente que gosta de sofrer mesmo. Quero ver a quantidade de sangue e perversidade diária que tu güenta, menina. Pois é, será que não tem ninguém que me incentive a Ser a Pantera Morena do Leste do Brasil?

Quanto a música, viu que tocou "Ballade pour Adeline"? Pois é, esta uma música me remete a tudo que sou: adorava tocá-la quando tentei ser algo como quase-pianista. Relapsa, acho que gostava mesmo porque era facílima. Ainda amo, e é seguramente uma das minhas paixões ouvi-la. Mais uma paixão: Miniatura. Num meio alheio a nossa rotina talvez possa se revelar algum lado íntimo que ainda não reconheço dentro de mim. Então, resolvi querer-por-querer aprender a construir uma casinha miniaturizada. Desse jeito: com detalhes preciosos. Requintes supremos. Tudo exagerado. Tudo majestoso. Pra minha porção Leão se contentar feito um pacha. Aí depois presenteio meu anjinho, pra ve-la sorrir, desconstruindo tudo aquilo que levei tempo pra modelar...Há uma dura luta de coisas, que apesar de corroídas, se mantém de pé. E nas cores mais densas há uma lividez daquilo que mesmo torto encontra-se direito*.

O longinquo forja miniaturas em todos os pontos do horizonte. Diante desses espetáculos da natureza distante o sonhador destaca essas miniaturas como ninhos de solidão onde sonha viver. O longinquo nada dispersa, ele agrupa numa miniatura um país em que gostaríamos de viver. Nas miniaturas do longínquo, as coisas díspares vêm "se compor". Elas se oferecem à nossa "posse", negando o longínquo que as criou. Nós possuímos de longe, e com que tranquilidade!" do Gaston Bachelar. E como a moça que acho que tem talento de sobra mora em curitiba - Ana Beatriz -, acho que o caminho está aberto. Fadado, quem sabe. Pra terminar, Que essa fase passe longe, e logo.

*Clarice Lispector

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