segunda-feira, julho 04, 2005


Modorrenta Segunda:.

Amiga, que falta você faz - principalmente nessas semanas que começam cansadas e com café melado. Como sobreviver até a tarde sem café e sem alguém pra descobrir respostas para mim? Três pedras pra jogar pra você: sonhei que você era enfermeira, estava num curso, e alguém lá te boicotava, e literalmente uma das suas mãos de repente adoecia e os dedos se grudavam - virava uma paçoca só. Havia uma BruxaMá por lá, que se fazia antes de sua amiga, e agora era puro ódio. Era ela que resolvia amputar seu membro. Mais: comecei a ler Espinhos..., da Zibia, e lá tem a seguinte frase "cuidado com as palavras e deveres que assumem por aqui".

Algo como: se começou a dizer a alguém que ama, saiba cumprir isso até o final, para evitar mágoas e acontecimentos desastrosos no futuro. Se casou, assuma o compromisso, não ciscando em terreiro nenhum, até que esteja livre. Porque o tempo passa, mas a honra e a dignidade da pessoa permanecem infinitamente por aqui. Não imagine que eu seja adepta de tudo isso - mas quanto a essa tal integridade, assumo: sou piegas. Ando com uma vontade de ser fiel a tudo, aos compromissos, às palavras ditas e escritas, a amizades e amores. Levar até o final o que falei, e quando resolver desistir de tudo, que não seja eu a fazer tal evento. Deve ser a tal síndrome do capitão, que é o último a abandonar o navio. Eu só quero que tudo de ruim me abandone, e resolva ir pro lado de lá. Pra que eu possa viver um tempo de amor e paz.

Lembra daquele "à meia altura do chão" que você andava? Deve ser contagiante, porque agora ando eu, a sorrir pra todos, pisar macio e pior - com uma tal "mexida" que não me sai da boca nem da mente. Decifre, se for capaz. Já estava indo e esquecendo: não é que você tinha razão quanto àquela parte que repete ad infinitum - dois iguais, paixão e amor? Bem, para o Flávio Gikovate corretíssima está você, pois o amor advém disso mesmo - da igualdade de dois seres. Li o tal livreto dele e até essa parte eu fui com a cara e a coragem. No momento em que ele salta dizendo que não existe ninguém bonzinho no mundo, aí fiquei assim - me achando injustiçada. Como é que ele escreve algo assim, e esquece de nós, seres tão do bem? Palavras do tal homem, FG.:

"Tenho insistido no fato de que todos nós temos uma sensação de buraco, de que falta alguma coisa. Temos, pois, um sentimento de inferioridade, que é universal. Ele está presente em todas as pessoas, inclusive naquelas que se mostram autoconfiantes e orgulhosas de si mesmas; são apenas criaturas mentirosas, além de competentes em artes cênicas. Foi a constatação dessa sensação que levou o poeta a afirmar: "é impossível ser feliz sozinho". Ou seja, a sensação da harmonia que buscamos só poderá ser encontrada a dois, na união amorosa. Essa foi também a posição que assumi nos últimos vinte anos. Defendi o amor romântico, a aliança intensa e forte entre um homem e uma mulher, como o grande remédio para o desamparo que nos acompanha. Ressaltei que a sensação de desamparo vinha aumentando, pois, até algumas décadas atrás, o aconchego era resultado da forte aliança que unia as famílias em clãs. A vida nas grandes cidades é hoje bem mais livre e tolerante para com o exercício de uma forma pessoal de ser. Por outro lado, a sensação de solidão cresceu muito. Usamos essa palavra – de forte conotação negativa que provoca pavor só de ser pronunciada – para definir a dor que deriva de nos sentirmos incompletos. Acho que a solidão envolve também uma certa vergonha, como se a pessoa sentisse menos competente para encontrar um parceiro. Poderia, porém, ser diferente: talvez deveríamos ter orgulho da nossa capacidade de ficar sós, coisa difícil e que nem todo mundo consegue. Na prática, porém, as coisas não vêm se passando exatamente como prevíamos. O conto de fadas, no qual embarcamos, tem esbarrado em vários obstáculos. Continuamos sonhando com o amor, é verdade; mas estamos cada vez menos dispostos a fazer concessões, a ceder às pressões do parceiro..."

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Sua experiência em consultório o fez perceber que quase todos os casais – e também as relações sociais e entre amigos – fundamentam sua relação nas trocas estabelecidas entre uma personalidade mais exigente, barulhenta e emocionalmente sensível e outra mais madura, compreensiva ao extremo. As pessoas se dividem em egoístas e generosas por fraqueza, e não por vontade própria. Nenhuma delas merece aplauso... segundo ele, os generosos não formam o time do bem, como julga o senso comum, nem os egoístas são os vilões. Sua hipótese é de que as diferentes reações a sentimentos humanos, como vaidade, inveja, culpa e humilhação, acabam por determinar o perfil de cada indivíduo. A miséria dos egoístas está no fato de que eles dependem dos generosos, assim como os generosos precisam dos egoístas. Em 1976, escrevi que havia dois tipos de amor, por diferença e por semelhança. A grande maioria dos casais se estabelecem entre pessoas antagônicas. Hoje, a moda é falar em alma gêmea, mas, na prática, as pessoas continuam se encantando por oposição e dizendo que os opostos se atraem. A atração por opostos tem muitas causas, desde a dificuldade de auto-estima (não gostar do seu jeito de ser e se encantar com o outro) até o medo da paixão, muito intensa, estabelecida entre semelhantes. A paixão, diferentemente da maioria das relações, se dá entre pessoas parecidas.

Paixão é amor em grande intensidade mais medo em grande intensidade. O coração não bate por amor, mas por medo. E muita gente acha que, quando a paixão vai passando, é como se o amor diminuísse também. Apenas o medo diminui. Mas muitas paixões terminam quando os amantes não suportam o que chamo de medo da felicidade. Ele está na raiz do pensamento supersticioso. O olho gordo tem cinco mil anos. O medo da felicidade surge quando estamos no meio de muita coisa boa e temos a impressão de que um raio vai cair na nossa cabeça. Muitos preferem se unir a uma pessoa diferente de si para garantir um pouco de irritação. Ligar-se a uma pessoa antagônica encanta e irrita ao mesmo tempo. Na paixão, as afinidades são enormes, os dois se encaixam maravilhosamente bem e o pânico se instala. As separações ocorrem por isso, e não por causa dos obstáculos.

A maioria dos casais é formada por um egoísta e um generoso; pois entre dois egoístas, a relação é impossível. Acontecem muitas brigas. Não dá problema psiquiátrico, mas ortopédico (risos). Quando o egoísta é casado com um generoso, pelo menos este coloca panos quentes. Quase sempre, a paixão ocorre entre dois generosos que acabam deixando de ser generosos. Seriam casais perfeitos se o generoso, tão atrapalhado psicologicamente quanto o egoísta, aprendesse a receber. O egoísta é estourado, ciumento, gosta de fazer autopromoção, é extrovertido porque não consegue ficar sozinho e intolerante à frustração. Faz o diabo para não se frustrar, inclusive passar por cima dos direitos dos outros. A partir dos seis anos, a criança é capaz de abstrair e se colocar no lugar do outro. Se uma criança vê um menino em uma cadeira de rodas e se imagina em seu lugar, sofrerá com isso. E uma criança que não suporta essa dor interromperá esse processo. Fica com uma visão unilateral do mundo e perpetua um padrão egocêntrico. São pessoas invejosas, embora se mostrem sempre muito bem. Isso confunde até hoje os psicanalistas, que fundaram o conceito de narcisismo, coisa que pra mim não existe, É um conceito usado para descrever pessoas que têm a postura do “eu sou bacana”, como se elas tivessem realmente esse juízo de si, o que não é verdade. Elas sabem que são um blefe. Fingem superioridade por se saberem invejosas e ciumentas. Elas precisam receber mais do que recebem. Matematicamente, são pessoas falidas. Podem botar a banca que for, mas são fracas.

Já o generoso é o inverso do egoísta. Não reage nem quando deveria, não suporta provocar dor na outra pessoa, aceita dócil um monte de contrariedade. Fala um monte de sim quando deveria falar não. Quando você tem oito anos e é um menino bonzinho e seu irmão começa a chorar porque quer uma bola que é sua, você não agüenta o remorso que imagina que vai sentir e dá a bola para ele. Mas não era isso que você queria fazer. Aí a mãe vem e diz que você é legal. O elogio estimula a vaidade, que se acopla à generosidade. É mais uma vez um truque para se sentir superior à custa de uma fraqueza. O generoso também inveja o egoísta, que é capaz de dizer não e goza os prazeres da vida, enquanto o generoso é todo cheio de pudores e constrangimentos. Acabam ficando duas porcarias.

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"Assim como a gravidade atrai os corpos para o centro da Terra, os nossos pensamentos têm o poder de atrair para nós aqueles relacionamentos que desejamos viver. Se nos dispomos a ver o que o outro tem de bom, nossas atitudes refletirão esses pensamentos e serão agradáveis e amorosas, despertando uma reação de igual natureza. Se pensarmos positivamente sobre as pessoas com quem nos relacionamos, naturalmente, as nossas palavras o nosso modo de agir se tornará muito mais leve e atraente. O contrário também é verdadeiro. Quando focamos os pensamento no que não gostamos no parceiro (a), desconfiando que ele(a) irá nos trair ou desapontar, nosso comportamento muda. Tornamo-nos mais agressivos, ríspidos ou impacientes e o relacionamento vai perdendo a graça e se tornando pesado. Para pensar bem do outro é preciso, antes, que pensemos bem sobre nós mesmos. É necessário reconhecer as próprias qualidades e a potencialidade que trazemos dentro de nós e que nos torna capazes de crescer, aprender e avançar. Só é possível dar aquilo que se possui. Apenas quem é capaz de se amar e de se valorizar pode amar e valorizar o outro. O caminho para uma boa auto-estima está em cultivar bons pensamentos e ter em mente que eles são a nossa companhia mais constante. Temos a opção de escolher, a cada momento, o que abrigamos em nossas mentes. Com atenção, esforço e responsabilidade é possível detectar um pensamento menos bom na sua origem, e substituí-lo por outro que irá produzir resultados positivos. A melhor estratégia para se encontrar uma princesa ou um príncipe encantado é tornar-se, você mesmo(a), um príncipe ou uma princesa encantada. O universo funciona como um espelho e tudo aquilo que transmitimos, retorna para nós amplificado. Para despertar os melhores sentimentos em quem é preciso pensar o melhor dele(a). Só assim estaremos irradiando o tipo de energia e de vibrações que desejamos receber, estabelecendo uma sintonia de amor e de harmonia nos nossos relacionamentos a dois."

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Depois disso, me sinto a própria Bridget Jones, presa a um regime maluco, e analisando teorias conspirativas psicológicas. Tem jeito de me salvar dessa porcaria?

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