terça-feira, julho 26, 2005


A Irmandade da Boa Morte

Nascida nas senzalas há cerca de 150 anos, a Irmandade de Nossa Senhora da Boa Morte tinha o intuito de alforriar negros ou dar-lhes fuga encaminhando-os para o Quilombo do Malaquias, em Terra Vermelha, zona rural da cidade de Cachoeira. Com a abolição da escravidão, as irmãs aproximaram-se da Igreja, surgindo assim a Irmandade de Nossa Senhora da Boa Morte. A historiografia dessas notáveis mulheres cachoeiranas continua a desafiar a inteligência de jovens pesquisadores. Seus rituais secretos ligados ao culto dos orixás também estão a requerer leitura etnográfica que respeite, naturalmente, os limites à manutenção dos segredos, tão importantes na manutenção dessa vertente religiosa. O que tem ressaltado é o aspecto externo do culto referido quase todo ao simbolismo católico e a sua apropriação afro-brasileira. Durante o começo do mês de agosto, uma longa programação pública atrai a Cachoeira gente de todos os lugares, no que se considera o mais representativo documento vivo da religiosidade brasileira, barroca, íbero-africana.

Há mais ou menos 230 anos esta festa acontece em agosto, mês que as integrantes da Irmandade dedicam-se totalmente à Maria, mãe de Jesus. Em geral todas ficam na sede e, mesmo as casadas, não podem manter contatos sexuais com seus maridos durante todo o mês de agosto. A festa representa a morte, a sentinela, o enterro e a assunção de Nossa Senhora aos céus. São inegáveis os sinais islâmicos da religiosidade da Irmandade da Boa Morte. A começar pela burca (bioco). No Oriente, celebrava-se a Dormição ou Assunção de Maria desde o fim do século 2. Ou seja, o ícone da “dormição” de Maria é ortodoxo. Para alguns, a devoção iniciou-se em Salvador, no começo do século 19, por negras jejes, para louvar Nossa Senhora da Boa Morte e da Glória, levantar fundos para comprar cartas de alforria para os negros, proteger e encaminhar negros fugitivos. Os sinais de alguma origem/ligação francesa da Irmandade, podem ser encontrados no bordado richelieu da bata branca e na saia plissada que, segundo as Irmãs, é a roupa original delas. A data de 15 de agosto, que fica no período das festividades, foi definida pelo rei Luís XIII (1601-1643) como o dia da Festa Nacional da França, país consagrado à Nossa Senhora, quando o rei fez um apelo para que naquela data, em cada paróquia, fosse realizada uma procissão em memória de Nossa Senhora.

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