segunda-feira, junho 06, 2005


Desopilando o fígado:.

Da Felicidade
Quantas vezes a gente, em busca de aventura,
Procede tal e qual o avozinho infeliz:
Em vão, por toda parte, os óculos procura,
Tendo-os na ponta do nariz!
Mário Quintana

No meio destes, está a tempestade em que me encontro. Descobri que não tenho a mínima vocação para medicina - graças aos seus que meu sonho de ser médica-pediatra suicidou-se aos doze anos, quando vi meu amiguinho socar a porta de vidro com a mão, e levar mais de 60 pontos. Foi um estrago que me levou a vômitos e pesadelos horríveis. No que eu sou boa: "compartilho a dor". Sinto tanto, que posso junto chorar como aquele que sofre. Também sóu ótima para a compra remédios, ligações para o médico, para a ambulância, e para arrumar o cheque-caução. Posso pesquisar a doença e com um pouco de sorte, achar a cura. Mas não me peçam o impossível: ficar ao lado de quem sangra sem me esparramar igualmente em dor. Eu não tenho nenhum medo da minha morte, contudo devo adiantar para os deuses que abomino a perda de qualquer coisa viva: meu peixe ainda está na lembrança, a pombinha gira por aqui em forma de espírito. A desesperança da minha alma é saber que não sou tão poderosa para resgatar do Além aqueles que amo - se pudesse trocar alguns anos de vida minha para que ninguém amado morresse antes de mim, faria o acordo. Contudo, sei que é nulo; já tentei isso uma vez, e não adiantaram as rezas, simpatias e toda sorte de promessas - Ele se foi sem dizer adeus. Contudo, Deus sempre me deu uma segunda chance na vida; desta vez, quem sabe, de outro modo, com mais devoção... De repente o problema foi que eu agi depois - se eu começar agora, no quase-morte, há dois passos da Estrada Vermelha, se eu segurar bem firme a mão, fazer uns patuás, será que desta vez eu não consigo não?


Bem no Fundo
No fundo, no fundo,
Bem lá no fundo,
A gente gostaria
De ver nossos problemas
Resolvidos por Decreto
A partir desta data,
Aquela mágoa sem remédio
É considerada nula
E sobre ela - silêncio perpétuo
Extinto por lei todo o remorso,
Maldito seja quem olhar para trás,
Lá prá trás não há nada,
E nada mais
Mas os problemas não se resolvem,
problemas têm família grande,
E aos domingos saem todos passear
O problema, sua senhora
E outros pequenos probleminhas.
Paulo Leminski

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