sexta-feira, junho 24, 2005


Até onde ir, amando?:.

"Abre a segunda das três gavetinhas do toucador. Vasculha entre os pentes, presilhas e grampos, e puxa lá do fundo a tesoura negra, pesada. É uma tesoura velha, pertenceu a sua avó paterna. Acaricia a lâmina afiada e escura. Passa a tesoura pelo rosto com cuidado, sentindo a frieza do metal. Não quer mais viver se for pra estar longe dele. Para que? Aguentar uma lenta sucessão de dias iguais, fingir-se interessada pela guerra, pelas vitórias, pelo sangue derramado, por aquela república... Ver outros verões, suar outras tantas tardes até que chegue um inverno, e mais outro, e mais outro, até que o minuano estoure em seus tímpanos, corroa sua alma, até que envelheça numa cadeira de balanço, olhando o pampa, feito um fóssil. A tesoura pesa entre os seus dedos. A tesoura espera uma decisão".

Trecho do livro "A casa das Sete Mulheres", que está dando um trabalho doido pra enfrentar as quinhentas e poucas páginas. Parece que o livro, aqui, não chega aos pés da minissérie.

0 Comentários:

Postar um comentário

Assinar Postar comentários [Atom]

<< Página inicial