terça-feira, maio 03, 2005


O julgamento, Arcano 20 do Tarô

"A mão que balança o berço" é herança ancestral. O julgamento, carta 20, remetida por certo Mago a esta Bruxa Amarela, ficou guardada na lembrança. Naquele momento lembro de ter olhado para o céu e gritado bem alto: Ó, Saturno, o início que emerge do Passado novamente à frente? A hora da colheita chegando, as amoras pelo caminho... o que falta? Re-conciliação. Re-conhecimento. Re-ssurreição.

"Na Janela, O 7º Anjo - Dhyan,anuncia,tocando punheta, ops trombeta: é chegado o momento: não é castigo, nem retribuição; é prestação de contas de situações e atos passados, através de lembranças do espírito". Eu não gosto muito do número 20, idem também número 2, peguei ojeriza deles depois de uma série de cursos não concluídos de numerologia, e uma análise numerológica que só meteu a mão no meu bolso. Segundo eles, e pode ser que estejam com a razão, ano 2 é ano de rito de passagem; homem com dia 2 ou 20 é aquele que me induz ao rito de passagem. O problema é o seguinte: não gosto de ser empurrada. E essa carta me assusta!!!

Além do que, tem a lenda da bisavó na família, contada pela avó "Encarnacion"numa noite sem estrelas, só com a lua amarela refletindo ao léu... "Minha Mãe, ela começava, contou uma única vez o porque da carta "A mão que julga" estar sempre em seu avental. Dizia que estava querendo ultrapassá-la, e até aquele momento, em todos os confrontos com ela, jamais havia vencido. Ela tinha poderes sobrenaturais e mágicos: conseguia trazer lágrimas aos olhos dela, e arrancar de seu peito uivos de dor. Trazia angústia e sofrimento, medo e perda, e quebrava a muralha que controlava a raiva imensa que ela sentia por um ato do passado. Começava a culpar a todos por aquilo, inconscientemente, e passava períodos de "Verdadeira Louca", resmungando ao vento que "Os Deuses eram culpados por aquele momento insandecente".

"Ralhos", gritava minha avó - "Isso é herança ancestral. A carga passou para mim, e também até hoje não consigo abrir a porta do passado. Prefiro deixar a Urna fechada; e pular esta etapa. Já me conformei que eu, assim como ela, não consigo me perdoar por uma escolha. Não consigo abrir mão do presente, muito menos confiar na visão e na voz da trombeta... Ah, prefiro a ilusão. Melhor ficar cá a ver tv, do que ir lá, crer..."

A ferida da escolha do passado jamais cicatrizou: ficava invisível... até que algo evocava uma imagem que a confrontava com o passado; e nesse período fugia e se traía. Não conseguiu perdoar-se por aquele mal que a carne não mostrava, mas que fazia sangrar a cada recordação. "... E no mundo dos mortos vislumbrou a grandiosidade do futuro que os deuses lhe haviam reservado. Se conseguisse acreditar na visão, teria aberto mão das dores do passado..."

Viram? Com destino a gente não brinca. Triste constatação. O que esta carta tem a ver comigo? Ao fazer a pergunta, invoco o insight e o momento em que consigo ver o traço de minha personalidade em tudo o que me aconteceu, e o nada deixa de ser coincidência ou mero acaso. Uns dizem que ela representa a luz e vence a escuridão. Mas quem é que pediu mais luz? Eu estou em dia com a Copel, não tem Apagão no Sul...

Todas as Cartas dos Arcanos Maiores são ritos de Passagem; estágios e processos dinâmicos, onde cada um conduz a outro, e embora nos esforcemos muitas vezes para tentar manter as coisas ou fazer parar o tempo para que possamos desfrutar ainda mais de uma situação confortável, jamais o conseguiremos, pois não dispomos do poder de reter em nossas mãos o tempo que mais nos agrada.

Posso entender porque minha avó constantemente repetia: "do destino ninguém foge, roda, roda, e volta..." Esta carta da entidade do mundo das trevas, que suavemente convoca os morimbundos a dançar, ou a partir, ensina que o Juiz está dentro de nós, Não no mundo exterior. Somos nós que nos apegamos a culpas e ressentimentos, mágoas e situações cômodas. E nessa passagem, ou você abre a mão e solta o que te prende ao passado, mergulhando na água à frente, ou retorna ao começo do labirinto, fugindo de suas traições e erros.

Há duas formas de se enganar: acreditar naquilo que você não é, ou recusar-se a acreditar 'naquilo' que é. Talvez seja a hora de comprar a capa Vermelha, fazer as pazes com as escolhas, e decidir ir agora pelo caminho da floresta, encontrar-me com o Lobo logo de cara, e em vez de fuga, caminhar ao seu lado. Ressuscitar a Loba Selvagem; Re-inventar o final da Jornada.

A criança Interior, encapuzada de vermelho, e encerrada no jardim que eu mesma cerquei, dá voltas exultantes. Luz, mais Luz para encontrar a chave do Portão! Com ela nas mãos, admito que compreendi que para abrir, primeiro devemos conhecer o conteúdo - ou seja, o pássaro preso deve mudar à si mesmo a fim de escapar da gaiola. Vc começa reunindo as peças do quebra-cabeça, vai juntando os ossos acumulados no porão, nossas experiências anteriores...

"O self julga o Self"; a borboleta saindo de sua crisálida. Como Crowley escreveu, "que esse ato seja um ato de amor e veneração; que esse ato seja o Fiat de um Deus; que esse ato seja uma fonte de irradiante Glória". Cabe somente a nós a escolha do caminho cicatrizante da compaixão, e da aceitação das limitações mortais, em vez da corrupção persistente do ressentimento íntimo contra a vida. O que foi ferido pode curar-se e desaparecer, e o que foi renovado e está cheio de esperanças, pode agora reger as motivações pelas quais vivo.

"Despojos que me éreis amáveis, enquanto permitiram os fados e os deuses... Livrai-me de meus tormentos." Talvez eu seja mágica, fada ou demônio; mulher ou criança. Espera e alegria, angústia e paixão. Sedenta do toque, ou faminta do AMOR. É... talvez eu viva e sobreviva da fantasia e da ilusão de um mundo que não é aqui. Embora inicie e fale de relacionamentos, a confiança no mundo inconsciente, na intuição, naquilo que vejo e ouço me falta.

Como mergulhar fundo, se há o medo de afogar-me? A emoção silencia as palavras - nenhuma é capaz de expressar a alegria renovada do reencontro. Os fantasmas do passado se perderam nas águas... o amor ensina o perdão?

0 Comentários:

Postar um comentário

Assinar Postar comentários [Atom]

<< Página inicial