quarta-feira, maio 18, 2005


Maré Cheia & Lua Nova:.

"Ando navegando numa maré incerta, que ora se enche e ora vaza, sem que eu tenha o menor controle sobre o seu movimento. Eu gosto de controle, com tanta intensidade, talvez por abominar a insegurança. E para aprender a me soltar ao destino, e confiar nos deuses e na minha intuição, minha vida invariavelmente me leva em uma direção onde me exige sempre uma entrega completa ao fluxo. Ao movimento. "Cair para trás, de olhos fechados..."

Começo a ceder, e vou deixando a vida me levar... Controlo agora só as coisas possíveis:a louça, as roupas, meu peso, e a minha bagunça externa. Abri mão do controle dos canais de tv quando Beatriz cresceu: agora a xuxa e seus dvds imperam. Aprendi com um ex a controlar as luzes acesas e a tampa do vaso sanitário aberta. A dobra dos tapetes do banheiro e o cesto de roupa suja.

Estou aprendendo a controlar minha raiva diante do quebra-cabeça que todos os dias começo a montar. Beatriz decidiu brincar com as pecinhas, e a cada volta ao lar, tenho que recomeçar tudo novamente. Porque ela se encarrega de desmontar o que já tinha iniciado. Eterno aprendizado o de uma mãe que está aprendendo a ser "buda" com sua pequena fadinha terrorista de um ano e oito meses. Ficha pequena então segurar palavrões e palavras estúpidas para quem não merece ouvir nada de mim. A falta que ele me faz, com certeza, é a mesma falta que eu faço. Estou aprendendo a refletir suas ações e não deter meu lado carinhoso...

Emoções novas, novas maneiras de pensar e agir. Mudo dentro como mexo com o que há fora. E mudo fora com o que mexo dentro. Meu Oceano de dentro é vasto, profundo e escuro. E o mar de mim, um desconhecido que me surpreende todos os dias com um sorriso imenso.

Os desejos não são iguais. A paixão não é a mesma, até o amor me vem diferente agora. O silêncio é música muitas vezes e outras barulho infernal. Eu não estabeleci regras. Ao contrário, determinei que não as quero mais. Eu me movo agora com o vai e vem das ondas. Não me aflijo se agora estou no topo e em segundos estou no fundo de mim mesma. Aprenderei a voar, sei nadar pra não me afogar, sei fincar raízes e a me curvar diante de tempestades. Posso até correr, quando preciso for. E o que sinto, não muda.

Definitivamente, não sou "a noiva em fuga", e sei muito bem minhas preferências quanto a ovos e pessoas. Lugares e posições. Filmes e canções. O que ocorre é que sou leal aos meus sentimentos -e enquanto eu sentir, portas fechadas. Abro a janela, deixo a brisa entrar... e quando for embora, com certeza convido a sorte e outro amor a sentar. Por enquanto, caminho e deixo as ondas me tocarem... Um dia passa...

A despeito da dor, do amor perdido, do conhecido que virou fumaça, do medo do escuro e o terror da ausência sentida, da solidão, eu sou feliz. Sempre haverá o gosto de morango e chocolate nas entranhas do meu ser. Sempre haverá o gosto do beijo, a sensação de um toque quente, que jamais me fará perder de vista esse lote que conquistei quando fui capaz de adentrar o mais profundo de mim mesma. E encontrar-me dentro de outra pessoa.

Não quero mais é não saber nada. Não quero mais não correr riscos. Não quero mais duvidar dos meus sentimentos. Não quero mais dar as costas a quem eu amo. Nunca mais quero ser falsa comigo, e deixar para trás alguém que me impressionou e me fez feliz. Não vou mais fechar os olhos nem me sabotar diante do orgulho que ainda tenho.

Eu quero tudo - todos os sabores e texturas. Eu quero o todo - mesmo que não suporte abarcar. Eu quero a vida, os cheiros e cores que ela tem. Quero gente, quero Universos inteiros. Quero me perder e me encontrar nos labirintos. Quero silêncio, quero paz, quero companhia. Quero cuidado, quero colo, quero andar sozinha. Quero música, quero sonho, quero maresia. Eu quero sempre mais da vida. E, surpreendentemente, a vida me oferece sempre mais.

Que assim sempre seja.

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