terça-feira, maio 03, 2005


À Espera...

Já era tempo de estiagem, céu azul, clima seco. Seria só mais um dia senão fosse dia de despedida...A necessidade tão urgente e clara do último abraço, tão perto e tão distante ao mesmo tempo. Havia tanto para ser dito, para ser sentido, havia paixão...

A tristeza por vê-lo partir envolveu-a. Teve que disfarçar o soluço, sentia uma dor infinita que mal podia suportar em seu peito. Desejava que o tempo voltasse, queria abraçá-lo, sentir seu corpo, seu envolvimento...Queria pedir para voltar, que ficasse junto dela, mas era tarde demais e talvez jamais tivesse outra chance de fazê-lo... Ele se foi...

De repente, o tempo mudou, o céu enegreceu, então vieram os ventos e a tempestade, uma chuva tão densa que jamais saberíamos se ela viera para lavar a alma, limpar os tempos e sentimentos, ou se eram, na verdade, lágrimas do universo... Chorando a desilusão, o beijo e o abraço perdidos, o fim de sua conspiração.

Desesperadamente, a chuva misturava-se a terra exalando um odor que transcendia e invadia todo o ser, acalmando-o lentamente. Percebeu então, que não se tratava de uma dor só sua, não estava mais chorando sozinha, era o sinal de um novo caminho que estava se abrindo, era o sinal de que novos tempos estavam chegando. Agora se iniciava o processo de reconstrução, precisava de um banho, precisava descarregar tamanha tensão emocional. Fechar o ciclo da perda, da despedida para que pudesse abrir outro dos quais viriam ganhos...

A água, aquecida pelo sol, invadia seu corpo e isso lhe conferia uma nova energia. Pode senti-lo, sua angústia, a dor da perda também era a sua dor, pois ele sabia o que estava deixando para trás, nunca é fácil abrir mão de sonhos... Dos nossos sonhos...

Eram muitos sentimentos, ainda incompreensíveis, mas de alcance e intensidade inimagináveis, incontroláveis. Depois de muito tempo, ela cessou a água, envolveu seu corpo, não tinha pressa, queria aproveitar o último momento, ele ainda estava ali. Deu início ao seu ritual de frascos, odores e texturas quando surpreendentemente deparou-se a um vidro esquecido e que continha o odor do homem que guardava em seu coração. Estava extasiada, seu corpo relaxado esquecia toda ansiedade, os mais puros e gratificantes sentimentos tomaram conta do seu ser. Amava e sentia-se amada, entendia seu propósito, sua vida borbulhava na intensidade de seus desejos, pronta para o brinde tal qual a taça do mais refrescante champanhe.

Não sentia solidão, sabia que sua alma tinha companhia no universo e que longa e árdua é a espera daqueles que se amam.

Feliz, entregou-se então aos braços de Morfeu onde adormeceu envolvida no cheiro de seu amado, esperando que talvez em sonho, o tivesse um dia, de volta...

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