domingo, maio 08, 2005


Baunilha & Chocolate

Pela janela percebo que os ventos mudaram. Eu sinto quando há alguma névoa encobrindo algo que gostaria de saber. Sempre, antes de me decepcionar, e invariavelmente ocorrer o que no meu íntimo pressentia com vigor, há um instante que é como uma "pausa no tempo dentro de mim" - minha'lma gravita entre a angústia e a aflição... Os temores conhecidos voltam, me assombrando novamente com o prenúncio de lágrimas. Não há - mesmo!, felicidade eterna, até que tenhamos alcançado o último de nossos dias.

Acredito no poder dos deuses, em destino e na predestinação. E não nasci, como Antígona, para partilhar de ódios, mas somente de Amor. Não aquele amor feito de palavras e omissão de atos, à espera de uma surreal perfeição... Quando a luz começa a preencher o escuro de mim, é tal como as ondas do mar, agitadas por tempestade. Revolvo tudo até o fundo do escuro abismal interior, e minha mente geme com o fragor das vags que se rebentam com a amargura de desgraça anunciada.

Para não perder a esperança, para reencontrar a confiança, para compreender mais alguma coisa sobre mim, continuo... triste, enfim. Sou constantemente varrida por um vento inclemente, que encerra em si todo um universo de mistérios e contradições, inacessíveis... e a cada passagem, meu coração se fecha um pouco mais para o mundo, se mantendo teimosamente recolhido num silêncio sepulcral. Por que as pessoas mentem?

Mesmo em meio a turbulências, decido desafiar a sorte e as marés, porque tenho certeza de conseguir vencer. Só não aprendi ainda a perdoar. Poderá um castelo de areia sobreviver às marés? Talvez a areia comece a escapar-me por entre os dedos e, ao longe, o vento marítimo a fustigar a terra com o seu sal. As sarcásticas histórias, malévolas e maliciosas, podem não voltarem com as ondas... permanecendo dentro de mim.

Situações até banais dançam com o extraordinário e o inesperado. Mais do que nunca, meu coração dá asas a sua imaginação e apresenta-me uma exuberante e prodigiosa caixa de Pandora que contém tudo quanto é extravagante, estranho, misterioso e perverso. Aí junto com a tristeza, o fantástico começa a andar de mãos dadas com o mundano, o amargo com o doce, e o belo, o grotesco, o sedutor e o perturbador ficam a meio palmo e distância.

Me conta a verdade, me mostra o caminho, me tira a neblina do meu céu...

*********

O destino é inexorável: nem a procela, nem a guerra, nem as sólidas muralhas, nem os navios abalados pelas ondas dele se subtraem (...), as parcas imortais não poupam ninguém [Antígona, Sófocles].

******************

"Quem não abriga ira ou temor dos insetos
e não se permite lágrimas de vez em quando?
Quem viaja sempre de noite e nunca diz mentiras
nem busca refúgio em sua própria sombra?
Quem não estranha um sabor, nem jamais corre a nenhuma
parte sem saber por que?
Quem não sorri, nem treme, nem maldiz e
não guarda ódio em seu coração?
Esse está no bom caminho. Temam por ele.

Efraím Medina Reyes, Pistoleros/Putas y Dementes - Greatest Hits, traduzido por Terron

0 Comentários:

Postar um comentário

Assinar Postar comentários [Atom]

<< Página inicial